Viver sem parar
Sou sincero: o que mais admirei em Manoel de Oliveira foi a sua forma de estar na vida, o desassombro com que fez sempre o que quis, disse o que quis dizer, gozou o privilégio de viver em toda a sua plenitude, e foi até ao fim sem um “ai”. Sempre com um incontornável sentido de humor, que é o sal do amor à vida. Isso é o que me impressiona, espanta e deslumbra.
Não tive o privilégio de o conhecer pessoalmente e, com a excepção do clássico “Aniki-Bóbo”, não consegui gostar dos seus filmes. Muitas vezes não os entendi. Alguns, aborreceram-me, ou adormeceram-me. Consigo sublinhar, aqui e ali, a beleza de um enquadramento ou a surpresa de um diálogo - mas não vou fingir que sou o intelectual que não sou e elogiar o génio que raramente me tocou.
Quem sabe realmente da matéria diz que sim, que era um génio. E eu confio em quem sabe.
Para mim, Manoel de Oliveira foi um português notável porque viveu a vida como quis, porque fez os filmes todos que quis (num pais onde raros conseguem fazer sequer o que se pode chamar de “obra” cinematográfica), e porque na medida da sua dimensão foi maior do que Portugal. Foi realmente um “português excelentíssimo”. Quem não sonha viver assim e morrer de velho?