Nove anos
Todos os anos, neste dia, penso no meu irmão António, no meu pai, nas cartas ao Pai Natal do meu filho pequenino, e revejo o olhar da minha mãe no dia da morte do seu Titó.
Todos os anos, neste dia, penso no paradoxo que constitui a tristeza do parágrafo anterior com a alegria deste parágrafo: foi pelas piores razões que há nove anos deixei de fumar. Mas foi uma atitude tão simultaneamente ferida, forte e feliz, que teve em mim um efeito inesperado: fez com que me sentisse uma melhor pessoa.
Propositadamente, escolhi para este post a fotografia de uma t-shirt que vi numa loja há poucos dias. Quando deixei de fumar, não quis aproximar-me da perfeição ou procurar saúde. Quis mesmo livrar-me de um vicio que começava a incomodar-me e que trazia más energias ao meu mundo. Continuo a fazer todos os outros disparates que me dão prazer, e não sou propriamente dado ao culto da vida saudável. Mas posso garantir-vos que sou mais feliz porque não fumo, e que este 4 de Abril é seguramente um dos meus dias mais relevantes de cada ano. Só quem viveu o que eu vivi, ou algo parecido, pode entender em toda a dimensão a importância que dou a um gesto para muitos óbvio e banal.
Daqui a um ano, será uma década sem essa prisão tóxica e infeliz. Que bom.