Os nervos
Talvez a expressão que mais me encanita quando se fala da crise grega seja esta: “os mercados estão nervosos”. A ideia de umas figuras nervosas - só podem ser pessoas, as máquinas não se enervam, nem as calculadoras, nem as caixas multibanco… -, todas ao mesmo tempo e à mesma hora, é por um lado assustadora, mas por outro dá vontade de rir. Quem são os mercados? A que café vão? Têm nome próprio? Foram eleitos por nós? Se são eles que efectivamente mandam nisto tudo, porque não são ministros e presidentes e primeiros-ministros? Não seria altura de nos deixarmos de tretas sobre esta coisa da democracia e entregarmos de vez o ouro ao bandido - isto é, o poder aos tais mercados?
Onde é que andam o Victan, o Bromalex, o Xanax, entre tantos bons produtos inventados para estas ocasiões, agora que são tão necessários para os acalmar?
Sinceramente, cada vez percebo menos. Cresci a ouvir falar de democracia e solidariedade, voto de quatro em quatro anos, tenho de aturar aqueles em que não votei em nome de um regime de liberdade e respeito, mas depois acontece qualquer coisinha menos óbvia e é o nervoso dos mercados que manda nisto tudo. O Passos não fica nervoso, nem o Cavaco, nem o Costa - são os mercados. E lixam tudo e todos com a nervoseira.
Dá para trazer os mercados para esta coisa da democracia e sabermos quem são e como se vota - ou não… - neles?