Europa
Cada vez me irritam mais os “achismos”, os “achistas”, os “palpitadeiros” de ocasião. Por isso, evito vir para aqui mandar palpites sobre temas cuja complexidade, por mais informação que tenha, me escapa.
É o caso da Grécia, do referendo de hoje, e da sua permanência no Euro.
Mas não é preciso ser especialista, nem “achista” de ocasião, para perceber que o drama grego é apenas o sinal exterior mais evidente do lugar onde chegámos. O sonho da Europa solidária (com o qual cresci e a que aderi, confiante e crédulo, como no passado também caí na conversa de amanhãs que cantavam…) morreu na praia dos interesses eternamente conflituantes entre os países ricos e pobres. Nenhum deles mudou ou se adaptou à realidade europeia: nem os ricos se tornaram mais solidários, nem os pobres deixaram de dormir à sombra da bananeira dos fundos de coesão. Estamos todos na mesma. Estamos todos, como cantou José Afonso, “nas nossas tamanquinhas”.
Assim, parece-me cada vez mais claro que, com ou sem Grécia na zona euro, alguma coisa vai ter mesmo de mudar. Está a chegar o momento do “vai ou racha”. A Europa em que acreditámos, afinal, nunca existiu - e a que sobrar, depois de todos estes tropeções, será outra. Bem distante dessa ideia solidária e fraterna.
A raça humana não mudou. Aqui, na Grécia, ou na Alemanha.