O papel
Ontem fui levar o meu filho ao aeroporto pela manhã e, como ele ía viajar na TAP, coisa cada vez mais rara, fomos ao balcão da imprensa levantar um jornal para ele levar. Encontrei o balcão fechado e o aviso que se pode ler acima.
Confesso que fiquei em estado de choque. Confundido. Baralhado.
Não deixei de pensar na modernidade de uma companhia aérea que decide dar um passo num sentido óbvio: o fim dos jornais diários em papel. Ainda que nem toda a gente tenha tablet ou smartphone, a coragem de tomar uma decisão radical e antecipar o futuro é algo que sempre aprecio. Chama-se ousadia. Fica bem a uma companhia aérea…
… Mas, por outro lado, invadiu-me uma profunda tristeza e um sentimento de perda: pela primeira vez, fui confrontado efectiva e realmente com o fim do papel impresso. O papel que recebeu as minhas palavras durante 30 anos, e onde li e ainda leio as palavras dos outros. O papel que não dispenso, ainda que o veja condenado. O papel cujo cheiro me encanta e o toque me seduz. Não me imagino sem ele.
O meu filho partiu, eu fiquei. Voltei para casa triste, muito triste.
Antes de sair do aeroporto, passei na papelaria e, como sempre, todos os dias, comprei os jornais da manhã. Em papel.