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Pedro Rolo Duarte

10
Set15

O debate (uma acha para a fogueira)

debate.jpg

Sobre quem ganhou, não me interessa.
António Costa talvez tenha vencido um confronto em que Pedro Passos Coelho não perdeu. E é um resultado estranho, este.
Ainda assim, o mais relevante terá sido aquilo de que falaram. Ou de que não falaram.
Ouvi hora e meia de economia e números: estatísticas, acertos de contas, quadros, dividas, créditos, pagamentos, taxas, impostos. Em momento algum, ideias ou um projecto de país.
Costa e Passos Coelho representaram bem o estado em que estamos: na mercearia, a fazer contas. Longe do auditório onde devíamos pensar Portugal.
Nada de novo, portanto.

05
Set15

O papel

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Ontem fui levar o meu filho ao aeroporto pela manhã e, como ele ía viajar na TAP, coisa cada vez mais rara, fomos ao balcão da imprensa levantar um jornal para ele levar. Encontrei o balcão fechado e o aviso que se pode ler acima.
Confesso que fiquei em estado de choque. Confundido. Baralhado.
Não deixei de pensar na modernidade de uma companhia aérea que decide dar um passo num sentido óbvio: o fim dos jornais diários em papel. Ainda que nem toda a gente tenha tablet ou smartphone, a coragem de tomar uma decisão radical e antecipar o futuro é algo que sempre aprecio. Chama-se ousadia. Fica bem a uma companhia aérea…
… Mas, por outro lado, invadiu-me uma profunda tristeza e um sentimento de perda: pela primeira vez, fui confrontado efectiva e realmente com o fim do papel impresso. O papel que recebeu as minhas palavras durante 30 anos, e onde li e ainda leio as palavras dos outros. O papel que não dispenso, ainda que o veja condenado. O papel cujo cheiro me encanta e o toque me seduz. Não me imagino sem ele.
O meu filho partiu, eu fiquei. Voltei para casa triste, muito triste.

Antes de sair do aeroporto, passei na papelaria e, como sempre, todos os dias, comprei os jornais da manhã. Em papel.

03
Set15

Nascer igual, mas noutro lugar

A imagem que ontem correu o mundo, e que foi muito bem enquadrada aqui, no britânico The Independent (e no Público de hoje), choca e comove, mas não nos pode surpreender: há tempos que os noticiários estão cheios de informação que traduz ou retrata esta realidade, agora vista de forma ainda mais chocante do que é costume. Há números de milhares de mortos, de milhares de retidos, de milhares de pessoas que tentam fugir à guerra, à violência, à ditadura, ou “apenas” à miséria.
Não seriam necessárias imagens para acordar a Europa para este flagelo - e acima de tudo, para a urgência em encontrar soluções para o resolver. Nas conversas que tenho tido sobre o tema, há sempre um momento de beco sem saída: se a Europa não consegue resolver boa parte dos seus problemas de emprego, de desenvolvimento, de solidariedade interna, como pode acolher este êxodo em massa de refugiados (lamento, mas não adopto a palavra da moda, “migrantes”…)? E como podemos garantir que não vamos criar novos guetos onde vão multiplicar-se crises e renovados conflitos, e onde esta gente vai viver igualmente infeliz e revoltada?
Não tenho, nem sei quem tenha, respostas para estas perguntas. Ou soluções milagrosas que façam nascer flores onde agora morrem pessoas. Mas sei uma coisa simples: não aceito ver os meus semelhantes - refugiados ou fugidos ou sonhadores ou apenas indigentes, não me interessa -, recambiados, rejeitados, desprezados, por seres humanos seus semelhantes, os tais que “nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Os tais que “dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. Pessoas como nós. Cuja única diferença foi terem nascido noutro lugar.
A Europa solidária, livre, fraterna, democrática, está enredada nas suas pequenas misérias, na corrupção em que tropeça todos os dias, e preocupada em salvar a face da sua miserável economia - e parece não ter aprendido a lição de duas grandes guerras e de crises e momentos dramáticos que levaram no passado, por exemplo, os irlandeses à América, ou os portugueses a França. Temos memória curta.
E eu tenho vergonha de viver numa sociedade assim.

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Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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