Um zero à esquerda
Cavaco borrou a pintura de vez. Mas ela já vinha mal de António Costa, que nunca se declarou derrotado e inventou uma vitória inexistente; e de Passos Coelho, que deu por ganha uma batalha, ignorando que uma guerra se faz de múltiplas batalhas; e do Bloco e do PC, que em nome de uma miragem de poder esqueceram repentinamente tudo o que haviam dito sobre o PS; e de Paulo Portas, que apesar de ser, neste quadro de miséria, o menos incoerente de todos, ainda assim também apagou o papão socialista que vendeu na campanha eleitoral.
Neste momento, qualquer eleitor de qualquer partido - ou mesmo, mais distantemente, quem votou em Cavaco Silva para Presidente - deve estar ainda mais desiludido, descrente, e desconfiado, do que no domingo em que decidiu ir votar, nem que fosse por entender que era o mínimo dos mínimos.
Em pouco mais de 15 dias, estes senhores conseguiram mostrar, da esquerda à direita, dos partidos ao Presidente, que o voto que nos enche a boca vale, afinal, um enorme “nada”.
Isto é: o mínimo dos mínimos que constitui, na soma de votos individuais, uma ideia colectiva de “decisão”, pode transformar-se num zero à esquerda.