Parece a brincar, mas é a sério
Fui ao melhor mercado da Europa que, dizem, é o de Rialto, em Veneza. Não acredito na classificação, tal a voragem turística que tomou conta da cidade, e que impede a vida própria de que carece um mercado de uma localidade. Alguém vive verdadeiramente em Veneza?
Mas é um bom mercado, ainda assim. O peixe é fresco e bem negociado, há flores e muitas categorias de cogumelos, há toda a espécie de frutas.
Vou só ver, não quero comprar nada. Mas dou comigo a olhar os tomates. As espécies. Os preços. As cores.
Os anos – especialmente desde que comecei a gostar de cozinhar – fizeram de mim um dedicado estudioso do tomate. Não é indiferente o tomate coração de boi do tomate chucha, e estes do caro e fabuloso tomate raf, ou do cereja, ou do Santa Cruz.
O tomate tornou-se uma das bases da minha alimentação. Ponho tomate nas sanduíches, com manjericão ou cebolinho; faço todas as saladas com tomate; asso tomate e cebola no carvão para fazer uma salada quase argelina com orégãos, azeite, e sal; uso o tomate na bolonhesa, claro; amo gaspacho; não dispenso tomate na paelha.
Um tomate cherry aberto com uma pitada de sal e um pingo de azeite é aperitivo, snack, ou refeição de praia.
Uma salada de atum sem tomate parece uma noite mal dormida.
Um frango de churrasco sem uma salada de tomate, cebola, orégãos, azeite, vinagre e sal, é uma tristeza.
E sardinhas assadas sem salada com pimentos e tomate é como cozido à portuguesa sem farinheira. Não dá.
Dito isto, percebe-se porque só fotografei tomates no mercado de Rialto.
E também se pode perceber porque acho hoje, mais do que nunca, que Portugal precisa de tomates. Nem que fosse para não oxidar de vez o país.