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Pedro Rolo Duarte

22
Jan16

Marcelo, a TV e o voto

(Crónica de ontem na plataforma Sapo24)

Tornou-se um dos temas mais debatidos nesta campanha morna: Marcelo Rebelo de Sousa levaria vantagem porque foi, ao longo dos últimos anos, comentador politico na TV e na rádio. Ou seja, tornou-se popular. Que eu saiba, não há estudos que comprovem essa relação directa - e a minha intuição diz-me que a popularidade que a presença nos media deu a Marcelo pode, no limite, prejudicá-lo, em vez de o eleger. Não tenho a certeza de que o eleitor comum queira ver na Presidência da República um homem que comentou na TV, que nos divertiu, que soube levar a política até ao lado mais lúdico que pode ter. Como ele, muitos outros fizeram o mesmo - de Marques Mendes a Jorge Coelho, e nunca essa circunstância os tornou presidenciáveis.
Sendo um homem académico, culto, com carreira, com perfil - razões que me levam a não esconder que votarei nele -, Marcelo é também o “malandrão” deste universo, o homem com sentido de humor (que falta à maioria dos eleitores, e faltou ao PR em exercício…), e acima de tudo uma figura que não gosta, como Cavaco gostou, de ser paizinho da Nação. Bem sabemos como este país ama quem tome conta dele, mas Marcelo não assumirá esse papel. Ele será, acredito, efectivamente Presidente da Republica, com a marca de uma personalidade que cativa e convoca aqueles de nós que não levam a vida demasiado a sério, cinzenta, sem graça…
Assim sendo, a vitória não são favas contadas, e a ideia de que ganha à partida só o prejudica. A popularidade é uma faca de dois gumes: foi ela que levou Carlos Cruz à prisão, como foi ela que levou Lourdes Pintasilgo a tentar (e falhar) ser Presidente; foi a popularidade que fez de Cristina Ferreira um fenómeno - mas terá sido também essa mesma popularidade que acabou, politicamente, com Manuel Maria Carrilho. Dar como adquirido esse conhecimento público é um pouco como aceitar que os ataques terroristas nos tolhem os movimentos. Nuns casos, pode ser verdade. Noutros, terão o efeito contrário.
Nesse sentido, as eleições de domingo constituem uma incógnita. Não tenho qualquer palpite para este dia 24 de Janeiro. Só gostava, sinceramente, que os eleitores não dessem razão ao Rodrigo Moita de Deus, que num programa de TV recente, onde participo, me deixou a pensar nesta ideia, porventura certa, mas obviamente triste: os portugueses estão tão desiludidos, e sentem-se tão enganados que, se pudessem, evitavam esta “coisa” do voto, porque lhes é indiferente a ideia de democracia. Temo que o Rodrigo tenha razão. E tenho medo. Talvez a TV, afinal, possa ajudar…

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