Quatro notas sobre as eleições de ontem
Um. O discurso de vitória de Marcelo Rebelo de Sousa explica e amplia por que ganhou à primeira e vai ser Presidente de Republica. Foi uma comunicação de grande estadista, de homem de consensos, de memória e futuro, e de esperança sem falsas expectativas. Assim ele seja este Marcelo de ontem à noite, e vamos ter um dos melhores Presidentes destes 40 anos de democracia. Ainda bem que votei nele.
Dois. O miserável resultado de Maria de Belém constitui um sinal e, quem sabe, uma esperança. Ela fez questão de nos demonstrar que põe os aparelhos partidários acima das pessoas, que a política é uma carreira, e que os partidos são sacos de gatos que se assanham no momento de abocanhar o peixe disponível. Espero que, com a sua atitude (e os votos que perdeu com ela), e com o que ela revelou sobre os Partidos do chamado “arco da governação” o pior, se entenda melhor o que tem de mudar, o que temos de erradicar. Maria de Belém queria abrir a porta da virtude - e escancarou a porta dos fundos.
Três. Não acredito que tenha havido um só eleitor de Marisa Matias que tenha acreditado sinceramente na sua passagem sequer à segunda volta. Mas, ao votar nela, aquela massa de mais de 400 mil pessoas disse aos outros dez milhões de portugueses - e essencialmente ao PCP e ao PS - que ser de esquerda começa a ser algo diferente de seguir a cassete de Jerónimo de Sousa ou o apelo desesperado do PS quando está à beira de perder.
Quatro. Podemos brincar com os votos em Tino de Rans ou nos outros candidatos, mas esses votos não deixam de ser manifestações. De eleitores fartos de “mais do mesmo”, de eleitores a quem tanto faz um Tino ou outro qualquer concorrente da Casa dos Segredos, de eleitores para quem isto da democracia é uma treta sem saída. Nesse sentido, a brincadeira é séria e merece ponderação. A História ensinou-nos que é nestes momentos que os loucos, os radicais, os ditadores e os megalómanos aproveitam para se chegarem à frente. E isso ninguém quer.