Justa reedição
Há quase dois anos, publiquei neste blog um post cujo titulo era “O Milagre das Segundas-Feiras”. Hoje, o milagre faz três anos e vai ser devidamente assinalado com uma sessão por onde vão passar Alexandre Cortez, Alexandre Sarrazola, Catarina Aidos, Clara Venice, Daniel da Rocha Leite, Diogo Dória, Domingos Gomes, Filipe Homem Fonseca, Filipe Valentim, Francisco Rosa, Isabel Nogueira, Joana Avi-Lorie, João Paulo Cotrim, Joaquim Paulo Nogueira, José Anjos, Leo Leonel, Luis Bastos, Luís Carmelo, Luís Carvalho, Luís Serra Santos, Manuel Cintra, Mc Santiago, Miguel Seabra, Nuno Miguel Guedes, Paula Cortes, Rosa Azevedo, Pedro Malaquias, e Silva O Sentinela. São 140 sessões de Poetas do Povo, que justificam merecidamente a reedição do texto que postei há dois anos. E dizia assim:
“Todas as semanas, à segunda-feira, dia em que a noite é mesmo noite e quase tudo está fechado, ou adormecido, dá-se um milagre na rua cor de rosa do Cais do Sodré, em Lisboa.
Pela mão de três apaixonados pela poesia - José Anjos, Alex Cortez, Nuno Miguel Guedes -, a partir das dez da noite começa a juntar-se gente no bar “O Povo”. São pessoas que, de livre vontade, saem de casa numa noite de segunda-feira, muitas vezes com frio e chuva, e vão ali para concretizar o milagre: ouvir poesia. Entre um copo e dois dedos de conversa, ouvem poesia dita por convidados que, apenas pelo prazer de ler e partilhar, aceitam passar a noite de segunda-feira naquele espaço.
Todas as semanas um tema, convidados diferentes, de todos os “ramos”, para todos os gostos. Já por lá passaram vozes tão diferentes quanto as de André Gago e Edson Athayde, Odete Santos e Sandra Celas, Manuel João Vieira e Francisco José Viegas, não falando nos promotores do milagre, que muitas vezes assumem as rédeas do microfone.
Ouve-se poesia antiga, moderna, clássica - ouvem-se nomes incontornáveis, como Pessoa e O’Neill, ou inesperados, como Alberto Pimenta e Assis Pacheco, mas também há espaço para os convidados lerem os seus próprios poemas, e tudo isto é acompanhado por músicos que sublinham, apontam, ilustram as palavras ditas.
Melhor seria difícil. Mas o milagre que ocorre n’O Povo não é a noite em si, que seria sempre de elogiar - é o facto de todas as segundas-feiras aquele espaço encher e muita vezes transbordar. Gente que quer ouvir, que se candidata a ler, que se junta à volta de palavras e mais palavras.
Ontem, uma vez mais, foi assim, sob o mote da “Poesia e Censura”. Gostei da escolha da Joana Amaral Dias, ri-me com a poesia dita por Rui Zink, gostei de ouvir (mais uma vez) o André Gago e o José Anjos. O ambiente era de festa suave, como pede uma segunda-feira, como puxa a poesia. Quando saí d’O Povo, estava reconfortado e reencontrado comigo próprio.
Num país deprimido e triste, onde parece nada acontecer, e só ter sucesso o mínimo denominador comum, o milagres das segundas-feiras d’O Povo é o sinal mais animador da cidade e uma espécie de prova de vida regular da nossa existência. Segunda que vem, eu volto”.