Se houvesse um mês Vergilio Ferreira, seria este, seria agora. Em 28 de Janeiro fez 100 anos que nasceu, a 1 de março fará 20 anos que morreu. Um pouco por todo o lado, neste blog, há referências à relevância dele na minha vida: do professor que não desejei nem gostei, ao escritor que é indiscutivelmente o meu favorito e que admiro profundamente. Passando pelo homem que se foi revelando em tantos livros. Decidi, por isso, ao longo deste mês, de vez em quando, trazê-lo aqui, sem pedir licença nem autorização.
Só com o empenho de um admirador que foi surpreendido a admirá-lo. Para este sábado é assim:
“O mais grave no nosso tempo não é não termos respostas para o que perguntamos - é não termos já mesmo perguntas”.
Por causa do "Mais Novos Do que Nunca", emissão da Antena 1 que esta semana festeja o seu primeiro ano, e que é dos mais fascinantes e inspiradores programas de rádio que fiz na vida (e olhem que levo mais de 30 anos disto…), recuperei um poema delicioso do brasileiro Manoel de Barros. Partilho-o, com uma dedicatória: à Joana Jorge, que comigo se apaixonou por este projecto (que eu sinto que é tanto meu quanto dela…), e que vibra e se emociona sempre que temos uma daquelas histórias que dão nó na garganta. E não têm sido poucas… Como esta, que na semana que vem contamos, e que me remeteu para o velho Manoel de Barros, que faria 100 anos em 2016…
Fica o poema, como se fosse uma vela para apagar:
O casaco
Um homem estava anoitecido. Se sentia por dentro um trapo social. Igual se, por fora, usasse um casaco rasgado e sujo. Tentou sair da angústia Isto ser: Ele queria jogar o casaco rasgado e sujo no lixo. Ele queria amanhecer.
Pode parecer lambe-botice ou elogio em causa própria, mas sou sincero: não me interessa o que possa parecer. Quem me conhece sabe que só elogio aquilo de que realmente gosto, que não regateio palavras aos bons trabalhos que leio ou vejo, e que tenho um percurso de vida muito mais feito de dar visibilidade ao talento dos outros do que andar à procura de aplausos para mim. Dito isto, venho aqui, de passagem, para elogiar a plataforma que a RTP montou - e quem a inventou… - para manter visíveis/audíveis os seus programas de rádio e TV, independentemente de poderem constituir também podcast ou não (e aqui a coisa já mete direitos de autor sobre filmes e músicas, por isso nem tudo pode estar neste formato). Hoje, qualquer programa das antenas públicas da rádio, ou dos diversos canais de TV da RTP, pode ser visto no computador, no smartphone, ou no tablet, a qualquer hora, em qualquer dia, organizado por datas, com referências ao conteúdo, de uma forma simples, prática e intuitiva. Sou fã da coisa. Está aqui e basta ir ao separador "Programas de A-Z" para tudo correr sobre rodas. E já que lhe dou os parabéns, também deixo os links para os programas onde, de momento, dou a cara e/ou a voz: Hotel Babilónia (Antena 1, com João Gobern, produção de Joana Jorge) Mais Novos que Nunca (Antena 1, com produção e edição de Joana Jorge) Central Parque (RTP3, com Joana Stichini Vilela, Nuno Aguiar e Filipa Gambino, produção de Diogo Peres) É tão bom ter tudo à mão.
Tenho lido e ouvido o depoimento de muitos profissionais da hotelaria que declaram, sem qualquer espécie de vergonha na cara, que os preços não vão baixar na restauração mesmo que o IVA volte aos 13% de há uns anos. Ou seja: os mesmos que, quando o IVA subiu para os actuais 23%, fizeram recair sobre o consumidor esse aumento, desculpando-se com a medida governamental, refugiam-se agora nas mais esfarrapadas argumentações para não repor o que lhes teria sido subtraído. Mantem-se actual o clássico “quem se lixa é o mexilhão”, que somos todos nós, consumidores - e lembro-me imediatamente de quando o escudo deu lugar ao euro e, do café à sanduíche, o que antes custava 100 escudos foi facilmente “arredondado” para 1 euro… Ou seja, o dobro. Parece que há sempre alguém mais esperto do que nós. Na verdade, oiço estas pessoas usarem argumentos estapafúrdios para manter os preços 10% mais altos e, por um lado, pasmo: é preciso lata. Mas, por outro, respeito e compreendo: não estão a fazer mais nem menos do que sucessivos governos - que, em teoria, também prometeram o que jamais cumpriram, tornaram definitivas as medidas provisórias, e arranjaram sempre boas desculpas para, “afinal”, não ser possível o que antes era óbvio. Se é verdade que o exemplo vem de cima, os profissionais da restauração estão a seguir o exemplo dos reembolsos que não se podem reembolsar, das taxas extraordinárias que o tempo tornou ordinárias, e dos abatimentos fiscais que anualmente minguam como gelo a derreter ao sol. Se quisermos ser rigorosos, mesmo no “dossier” IVA já há ditos por não dito: o que era uma promessa eleitoral de baixar o imposto na restauração, sem especificações de maior, foi limitado a parte dos produtos que a hotelaria comercializa - e não é já, é lá mais para a frente. Foi o Governo o primeiro a mudar de ideias. Mas os profissionais do sector, que também são profissionais do queixume permanente - “isto está cada vez pior” é o chavão de todos os dias… -, parecem excelentes alunos. O problema maior vem depois e está estudado pelos especialistas: quanto mais se lhe aperta a garganta, mais rapidamente se empurra o contribuinte para a economia paralela, para a compra e venda sem papeis e sem registos, para o negócio quase comunitário da troca de bens e serviços. Há uma limite acima do qual o “cobrador”, seja o Estado ou um restaurante, começa a asfixiar a galinha dos ovos de ouro. E ela morre. Ou deixa de pôr ovos. Na pior das hipóteses, reclama um subsidio ou pede um resgate financeiro. Para o que estamos guardados…
Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.
Uma boa frase
Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.