Achismos
Entre o debate sobre a eutanásia e o “romance” Henrique Raposo, a semana foi marcada pelo mais irritante fenómeno dos média nacionais: o achismo. Toda a gente acha qualquer coisa. E escreve. E publica. Sempre foi assim - com vagas de achistas que hoje são moda, amanhã são chatos -, e pelos vistos sempre assim será. Não me excluo do grupo: passei anos a achar isto e aquilo, até perceber que o limite do meu achismo deve estar junto ao limite dos meus conhecimentos.
Talvez por isso, o discurso de Henrique Raposo não me mereça comentários: a forma como escreve resulta certamente de estudo e conhecimentos. Ou então, de achismo e lata descomunal. Na minha qualidade de falso alentejano (costumo dizer que, sendo lisboeta, não tenho terra, e por isso me sinto alentejano…), acharia pelo menos tolo o que li do que ele escreveu. Ou então o rapaz apenas quer protagonismo. Mas não passo daqui.
Já no caso da eutanásia, estou mais informado e atento, e consigo distinguir o debate sério, a fazer, das declarações infelizes e pouco ponderadas da Bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Estamos num domínio onde se confunde eutanásia com cuidados paliativos com alivio de sofrimento nos momentos finais da vida. É toda uma outra conversa.
Depois ainda houve o “Caso Lamas versus João Soares”, mais a desfaçatez da ex-ministra Maria Luís Albuquerque, e a rematar uns vagos 1800 milhões que talvez tenhamos de pagar por causa de uns swaps activos que um banco reclama.
A semana foi assim. Que Raposo assim ou assado. Que a Bastonária dos Enfermeiros isto ou aquilo. Que o Happy Meal da McDonalds está certo ou errado. Que o cartaz do Bloco de Esquerda pode ou não pode. Que Maria Luís Albuquerque devia ou não devia.
Chega sexta-feira e estou cansado de tanto achismo. Já nem consigo achar nada - a não ser a chave de casa para me fechar a ler um livro.
No meio de tanto ruído, só me lembro de João César Monteiro, que o meu sócio João Gobern citou hoje quando gravávamos o nosso programa de rádio: “não vi e não gostei”. É isso.