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Pedro Rolo Duarte

10
Mar16

One Marcelo Show

(Crónica de hoje, um pouco atribulada, mas ainda a tempo, na plataforma Sapo24...)
Ontem foi o dia de um homem só. Acompanhado, rodeado, acarinhado. Mas só. Ontem foi o dia de Marcelo Rebelo de Sousa, o novo Presidente da Republica, sozinho, sem partidos nem “apoios”, sem cadernos de encargos nem deves e haveres de fretes e favores, exibir a Portugal como pode ser diferente a política, como se pode ser institucional sem ser tradicional, como se pode chegar ao topo da estrutura do estado sem os trâmites habituais.
Marcelo chegou sozinho, subverteu o protocolo, trocou o banquete pelo espectáculo de rua. Foi claro na mensagem: quer ser um Presidente para os portugueses, não apenas dos portugueses. E nesta pequena nuance, entre o “para” e o “dos”, há toda uma história - que de resto o seu discurso inaugural bem revela.
Enquanto a maioria dos políticos - incluindo o Presidente que saiu… - fala dos portugueses como uma massa homogénea, espécie de “coisa” que não se distingue do resto da paisagem, Marcelo falou “de pessoas de carne e osso”. E acrescentou: “Que têm direito a serem livres, mas que têm igual direito a uma sociedade em que não haja, de modo dramaticamente persistente, dois milhões de pobres, mais de meio milhão em risco de pobreza, e, ainda, chocantes diferenças entre grupos, regiões e classes sociais”.
Em todas as palavras do seu discurso há intenção, não há acaso nem improviso. Em todos os actos do dia de ontem houve avisos, sinais, declarações de intenções. Se o seu exemplo for visto por aqueles que persistem em fazer da política um território cercado de arame farpado, a política terá começado a mudar ontem. Talvez possa ser mais para as pessoas e menos para os números, mais para a mudança e menos para a estagnação.
Não sou, porém, muito optimista. Não há duas pessoas iguais - e acima de tudo, não aparece com frequência no nosso universo público gente com a fibra, a garra e o talento popular - que não populista - de Marcelo. Provavelmente, este será um caso isolado - que, paradoxalmente, por isso mesmo, vai marcar a História. Que seja inspirador, não peço muito mais.
E agora que a fasquia se elevou a um nível nunca antes visto, esperemos que o novo Presidente a mantenha nas alturas. Se não for um homem que quebra o protocolo, e se mostra diferente desde a primeira hora, a pôr de lado o cinzento que domina a política nacional há 40 anos, não há mais ninguém que o possa fazer.
Nesse sentido, Marcelo ontem foi um homem só - mas teve muita gente do seu lado. Que continue a dormir pouco e nunca se cansar…

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