Páscoa
Gosto muito desta fotografia, ainda que seja banal e não passe de um registo. Mas junta muitas emoções num só momento.
Conto: quando o meu filho nasceu, a mãe dele, católica e com uma família muito ligada à Igreja (ao contrário da minha), assinalava a Páscoa com alguma intensidade (facto que me era estranho, que nunca ligara a este momento). E tinha o hábito de fazer uma brincadeira com as crianças na tarde do domingo de Páscoa: consistia em esconder ovos de chocolate e outras guloseimas, no terreno à volta da casa que tinha nos arredores de Lisboa, para a miudagem depois andar à caça do “tesouro”. Assisti a algumas dessas tardes, com os primos, felizes, todos a esgravatar o jardim à procura dos doces…
Achei a ideia divertida e, já casado e pai, prolonguei-a no Alentejo, na casa que por lá tive, enquanto a tive. Entretanto divorciei-me.
Esta fotografia foi tirada no último domingo de Páscoa (2002 ou 2003, não sei bem) em que coincidiu o fim-de-semana com o António Maria ser meu (os divorciados sabem do que falo quando falo de “fim-de-semana meu”…), a minha mãe ter ido connosco e ajudado a esconder (e depois descobrir…) os ovos escondidos, e estarem uns dias de deslumbrante Primavera.
Gosto de guardar os bons momentos vividos. Não para efeitos nostálgicos, mas para poder dizer, daqui a uns anos, como o poeta Neruda, “Confesso que vivi”.
(Como bem sabem, entretanto os miúdos crescem e os ovos de Páscoa deixam de se esconder e exibem-se nos supermercados… Essa história já não interessa nada.)