Afinal havia outra
Começou tudo com um equívoco. O nome dela. O nome dela era igualzinho ao nome de uma pessoa com quem trabalhei, numa revista, há muito tempo - e dessa pessoa guardo boas memórias (embora nunca mais tenha sabido dela). Porém, de entre inúmeras qualidades que tinha, a escrita não era uma delas…
Por isso estranhei, mas ao mesmo tempo fiquei fascinado: Uau, a Eugénia surpreende-me, quase 20 anos depois, com um talento absolutamente extraordinário para escrever, fosse prosa ou poesia, fossem textos mais nas nuvens ou de pés na terra com opinião formada e argumentação inteligente!
Não demorei muito tempo a perceber - não me lembro como, uma fotografia de jornal, uma biografia breve, qualquer coisa assim… - que afinal havia outra. Esta Eugénia não era a que tinha conhecido e com tinha trabalhado. Era outra. Só o nome era igual.
A graça do equívoco é apenas essa: provavelmente, no começo, dei mais atenção aos textos da Eugénia de Vasconcellos na blogosfera por causa dessa coincidência. Mas a circunstância não muda a essência: sou um seguidor fiel e leal das palavras que esta mulher nos oferece (agora, no “Escrever é Triste”).
Há dias lera o Manuel S. Fonseca, lá no blog, anunciar o livro em que se revela a Eugénia poetisa: “Li os poemas e encontrei neles uma discursividade exuberante, tão desregrada como bela, uma integração do quotidiano no jogo metafórico, como não vejo em mais nenhuma da nossa poesia actual. Este é um livro em que a linguagem vai ter com a vida e dá lugar a uma voz poética própria”.
E agora ele aqui está. É o meu livro para o fim-de-semana. E sem querer violar as regras da edição e do direito de autor, deixo-vos um dos poemas mais pequenos - mas grande, na sua economia de palavras - para abrir o apetite.
Chama-se “Vai” e diz assim:
Esperei-te. Não chegaste.
Agora vai até ao fim do teu nome
descobrir a minha ausência
em cada uma das suas letra.