É que nem peço licença…
No Dia Mundial do Livro, o escritor, também jornalista, Nuno Costa Santos, teve a belíssima ideia de inquirir um generoso numero de pessoas - umas mais conhecidas que outras, mas todas na prateleira que diz “leitores de livros, inteligentes, e com coisas para dizer” - sobre a forma como reagem aos livros emprestados que nunca voltam a casa. Entre todas as respostas, perdoem-me a insistência, a da minha amiga Sofia Cunha, que é escritora (ainda que também seja tripulante na TAP, e arquitecta, e até poetisa…), é notável. Sem lhe pedir qualquer licença, aqui deixo a resposta que ela deu e o Nuno reproduziu:
“Nunca empresto livros nem amantes. Muito menos estrangeiros. Um dia, por amor, emprestei um livro a um amante. Quase perdi os dois. Saíram juntos e nunca mais os vi. Passados anos, devastada, convidei o amante para jantar lá em casa. Pedi-lhe que trouxesse o livro. Por uma questão de sobrevivência, teria de lhe comer a carne, para lhe ficar com os ossos; ninguém se sustenta sem esqueleto.
Depois do jantar e da queima, guardei os dois. O livro na prateleira. O amante também. Num recipiente hermético. Assim é o amor maior; trágico.
O amante morreu hoje, ou ontem, não sei”.
Notável. A minha amiga Sofia, quando perceberem que ela existe, vai ser a grande escritora que já é - mas de todos, e não apenas de alguns, como é agora. Fica escrito.