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Pedro Rolo Duarte

20
Mai16

Um Aeroporto com nome

(Crónica de ontem na plataforma/newsletter Sapo24)
Uma coisa é certa: dei por isso. Terça-feira passada, aterrando em Lisboa depois de alguns dias fora, o habitual discurso da assistente de bordo da TAP incluía uma novidade - saudava os passageiros à chegada ao “Aeroporto Humberto Delgado”. Nem Portela, nem Lisboa. Humberto Delgado. Desde sábado, dia 15, é este o nome oficial do primeiro Aeroporto Internacional de Portugal, depois do Governo adoptar a proposta que a Câmara de Lisboa aprovou em Fevereiro de 2015. Curiosamente, António Costa era o Presidente da CML nessa altura, e é agora o primeiro-ministro que torna a proposta (de resto, aprovada por unanimidade) efectiva.
Confesso que senti alguma emoção. Humberto Delgado não é do meu tempo, só o conheço pela campanha que o notabilizou (e matou…), mas esta nova designação da Portela consagra algo que sempre defendi: os nomes que as ruas, as praças, os edifícios, ostentam, não são meros carimbos evocativos - são formas de perpetuar aqueles cuja vida nos deve orgulhar na identidade, na ética, na forma como deram o seu melhor pela comunidade. Gosto de saber quem foi a pessoa que convocou o nome de uma rua ou avenida. Por que motivo uma rua se chama assim ou assado.
Uma vez escrevi sobre este tema - quando, num táxi, fui surpreendido com uma memória que provavelmente se apagaria se não houvesse uma rua com o seu nome: ouvi uma chamada de um cliente para a Rua Helena Vaz da Silva. Esse aparentemente banal e corriqueiro acto levou-me a recordar a grande mulher do Centro Nacional de Cultura. E a falta que nos faz. É para isso que servem os nomes das ruas e dos edifícios: para que nunca esqueçamos aqueles que marcaram um tempo - mas cujo correr dos dias, pela sua natureza, se encarrega de esfumar, na memória e tantas vezes, por essa via, na importância.
No caso de Humberto Delgado, juntam-se dois factores relevantes para que o principal Aeroporto português tenha o seu nome: não apenas foi um dos ícones da oposição ao regime ditatorial de Salazar, como foi um dos pioneiros da aviação civil nacional, presidindo à fundação da TAP, em 1945, e definindo os seus contornos iniciais. Claro que o seu nome chega aos dias de hoje pela “ousadia” de ser candidato presidencial de oposição a Américo Tomás, em 1958, e pela coragem de, à pergunta sobre que destino daria a Salazar, caso fosse eleito, ter “criado” o primeiro soundbyte do século XX português: “Obviamente, demito-o!”. Ficou conhecido pelo nome de “General Sem Medo”, o que lhe custou a vida. A polícia política de então, a PIDE, percebeu nesse momento o que havia a fazer: eliminá-lo. Fê-lo em 1965.
Cinquenta anos depois, faz-se justiça ao General Humberto Delgado - e agora, para todo o sempre, quando um avião aterra na Portela, o seu nome é dito, e por muitos recordado. Mais do que aulas de História ou museus adormecidos, é desta forma que perpetuamos os que merecem esse reconhecimento. É raro, mas aconteceu: foi com um sorriso de felicidade e comoção que voltei a Lisboa na terça-feira.

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