Assusta e ilumina
Ver um ex-ministro da administração interna, Rui Pereira, comentar na CMTV presumíveis homicídios e potenciais suspeitos como crimes efectivos, e criminosos transitados em julgado na praça pública, é algo que por um lado me assusta, mas por outro me ilumina.
Para já, baixa-me à terra mesmo numa pacata noite de sexta-feira: ok, vivemos num mundo demasiado imperfeito para que possamos acreditar na justiça, na igualdade, e na meritocracia - que levaria alguns a lugares de poder, e outros a lugares nas mesas de sueca dos jardins das suas cidades.
Pensar que Rui Pereira, este mesmo homem que vejo ali a palpitar, superficial e ligeiro, sobre um crime cujos contornos se conhecem vagamente, e que fala no suspeito como já óbvio autor de um triplo assassinato macabro - dizia eu, pensar que este homem mandou nas polícias portuguesas, que por sua vez nos metem dentro, nos acusam, nos investigam, diz muito sobre a roda livre em que vive a justiça em Portugal. E o poder. E não é de somenos que, ao lado dele, na TV, estivessem um ex-autarca (Moita Flores) e um ex-inspector da PJ e ex-sindicalista (Carlos Anjos)…
Desta vez a culpa não é da CMTV. Quem se senta naquelas cadeiras sabe ao que vai - e é triste admitir que esta gente faz parte da elite que manda/mandou/mandará em Portugal.
Assusta. A única vantagem é que também ilumina.