O mundo de Saraiva
Não é preciso - nem conveniente, digo eu… - ler o livro de José António Saraiva, “Eu e os Políticos”, para perceber que estamos perante um vómito de um homem sem escrúpulos, sem princípios, sem ética, sem moral. Que tenha dirigido o principal semanário português durante mais de 20 anos, não consigo compreender. Que tenha arranjado dinheiro - ou melhor, que haja quem lhe tenha dado crédito… - para fundar depois o “Sol”, compreendo ainda menos.
Que haja espanto e surpresa na edição de um livro de devassa da vida privada, de traição a quem nele confiou, e de mexeriquice gratuita, repugnante e difamatória, assinado por José António Saraiva, isso já me surpreende. Não era isso que dele se esperava?
Não conheço bem o senhor, e os dois momentos em que nos cruzámos disseram-me tudo sobre a figura. Poupo-vos pormenores. Direi apenas que o quis entrevistar quando lançou o “Sol”, e o senhor recusou, alegando que o tratara mal, numa reportagem sobre o "Expresso", que eu tinha feito 20 anos antes, nas páginas de "O Independente". Estranhei a resposta, porque Saraiva me enviava os seus livros com dedicatórias altamente elogiosas - mas fiquei esclarecido quando um dia tropecei nessa antiga reportagem e verifiquei que não apenas não o tinha “tratado mal” como fizera a mais limpa e ingénua reportagem sobre um dia de fecho do "Expresso". Claramente, Saraiva confundiu-me, ou vivia já sob esta histérica condição de centro do mundo - a mesma que o levou a declarar que ambicionava o Prémio Nobel da Literatura. Ou a mesma que o levou a interrogar-se sobre se os gays não andariam a exibir-se excessivamente. Ou a ignóbil prosa que escreveu, já nem sei onde, sobre Emidio Rangel, depois da sua morte.
Bom, dali não vem nada de bom, nunca veio, nem nos tempos em que escrevia na página 3 do "Expresso" uma coluna onde explicava aos políticos, de forma simplista, redutora e muito pouco consistente, o que deveriam fazer…
Por isso, confesso, o que me surpreende são as vozes indignadas, revoltadas, chocadas, de todos aqueles que trabalharam com José António Saraiva, sob a direcção de José António Saraiva, que o conheceram bem e de perto, e nessa altura lhe foram leais e fieis. Incluindo alguns que o acompanharam na aventura do “Sol”. Mas a vidinha é assim - e às vezes o ordenado ao fim do mês fala mais alto…