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Pedro Rolo Duarte

30
Out16

Quando tudo muda

vnmf1.jpg(Para a Rita Fernandes, para o Jaime)

Ontem, ao final da tarde, depois de um mergulho inesperado em São Torpes, estava a beber uma cerveja com esta vista pela frente. Meio-mundo a conhece: a foz do rio Mira, em Vila Nova de Milfontes, onde a água doce se mistura com a salgada, num confronto sem vencedores nem vencidos.
E como os pensamentos correm como a água, sem fronteiras que os travem ou limitem, lembrei-me por que fui parar a Milfontes, em 1987, e por que motivo desde aí troquei o aparentemente eterno triângulo Penedo/Praia Grande/Colares pelo Alentejo - que começou aqui, depois passou pela Zambujeira-do-Mar, e nos últimos anos parece ter aterrado de vez em Melides. A razão é tão simples como profunda e marcante: a morte do meu pai, em Fevereiro de 1987, mudou tudo na vida do jovem de 22 anos que eu era, e para quem a vida não tinha a morte incluída.
Para mim, naquele tempo (como hoje), o Penedo, a Praia Grande, Almoçageme, Colares, eram os lugares do meu pai: do “Funçageiro” de Colares ao “Café do Pinto” (onde ele convencera a aldeia de que as imagens da chegada do homem à Lua eram desenhos animados…), passando pelas conversas na Praia, com a Dona Luísa, sobre o método de fabrico da Bola de Berlim, ou os cafés nocturnos no Bibió, por entre bandejas vindas de todo o planeta. Naquele final da década de 80, a zona estava tomada por memórias que me faziam sofrer e que queria evitar. Tinha de continuar a viver, essa era a verdade dos factos.
Foi assim que desci, costa abaixo, à procura de lugares virgens, sem História, e onde pudesse viver uma vida que me tinha sido mudada sem aviso prévio. E foi assim que cheguei a Milfontes, à Longueira, à Zambujeira, a Almograve, e desbravei toda a costa alentejana até me fixar em Melides.
Hoje, quase 30 anos depois da morte do meu pai, já consigo voltar ao Penedo, ou à Praia Grande, com gosto. A memória perdeu o sabor amargo e ficou apenas doce. Olho alguns pessoas daquele tempo, que raramente me reconhecem, e gosto de saber quem são. Há lugares que não mudaram e sinto-me confortado. Passou muito tempo e tudo ficou mais suave. O tempo passa.
O mesmo tempo que ontem, olhando a foz do Mira, me pareceu já distante. Mas ainda assim familiar, doce, e de alguma forma pessoal e intransmissível. Deve ser isso aquilo a que chamam, de forma comum, “recordações”. Pode ser que sejam - mas são o que resta do que vivemos e deixou marca. Sinto-me mais rico com elas.

27
Out16

O Jaime

jaime.jpeg

Algures em 1985, no ultimo andar do Hotel Rex, onde o João David Nunes e o Jaime Fernandes "recebiam" ao almoço. Neste caso, recebiam o João Gobern e eu próprio (os de costas. claro) para explicar ao "Se7e" a estratégia (vencedora) da Rádio Comercial. Uma amizade entre quatro que nunca se quebrou, mesmo quando cada um andou por seu lado...
(... Mas mesmo quando cada um andou por seu lado, havia uma coincidência anual que não escapava: entre 23 e 24 de Dezembro, ali pela Livraria Barata, eu e o Jaime cruzávamo-nos às compras. A vida pode não querer, mas eu quero que se lixe: vou-me cruzar na mesma com o Jaime. No coração.)

07
Out16

A postos para novos impostos…

(Quinta-feira passada, na plataforma/newsleter Sapo24)

Há dezenas de anos que sucessivos Governos “inventam” impostos indirectos, que fazem de conta que não são connosco - mas no fim pagamos, que remédio, e a vida segue. A “Geringonça”, que já fez um ano e provou que afinal podia funcionar, mesmo que em modo “tem-te não caias”, anda agora às voltas com o Orçamento, e o primeiro-ministro António Costa preveniu a populaça, via jornal Público, que não é improvável que alguns impostos indirectos venham a ser criados para cumprir as metas a que a Europa nos obriga.
Estava a ler a coisa - nomeadamente a ideia do imposto sobre o açúcar, com o pressuposto de que se trata de um bem para a saúde pública… -  e imaginei uma start-up, tive um laivo de empreendedorismo: criar uma empresa para a invenção de novos impostos!
Tratava-se de um negócio supra-partidário, que funcionaria como as empresas de comunicação. Assim chegasse cliente, assim faríamos fato à medida. Disponível para inventar, recriar, fazer renascer ou apenas implementar toda a espécie de novos impostos indirectos. O cliente determinaria se seriam mais ou menos indolores, discretos, escondidos, fingidos ou descarados. Estaríamos aqui para servir!
Num ápice, inventei cinco novas taxas, cobranças e impostos que, com jeitinho, ainda vão a tempo de servir a “Geringonça” (gratuitamente, nesta fase de “lançamento” da empresa que estou a pensar abrir). A saber…


Um. Imposto sobre o animal domestico - Sendo certo que a existência de um animal em casa pressupõe determinados custos para a comunidade, seja o cocó que alguns se esquecem de apanhar ou o latido nocturno que incomoda, não falando nos pêlos que pairam pelo ar e podem fazer crescer as doenças respiratórias (logo, os custos do Serviço Nacional de Saúde), uma pequena taxa anual por cada animal de companhia não custa nada e serve todos…
Dois. Taxa pela utilização dos passeios para correr - A moda das corridas parece instalada. Nada contra. Mas talvez o Governo pudesse obrigar as empresas que vendem ténis a cobrar uma taxa (10%?) sobre o preço de venda das sapatilhas, que reverteria para a manutenção dos passeios e cobria alguns acidentes que a correria possa provocar nos atletas.
Três. Taxa sobre o gelo na restauração - A transformação da água em gelo para bebidas, nos bares e restaurantes, reflecte um consumo de energia que não deve passar em claro. Cobrar meia-dúzia de cêntimos pelo gelo consumido parece-me razoável.
Quatro. Imposto sobre o ruído nos jogos de futebol (em caso de golo) - Um pequeno estipendio pelo ruído provocado pelos adeptos, sempre que há um golo num jogo das duas ligas principais. Pode ser imputado ao clube, que por sua vez decide se o faz recair sobre os sócios…
Cinco. Taxa sobre a permanência em esplanada - É de elementar justiça que o cliente de uma esplanada pague sobre o ar que respira, a vista de que usufrui, e o ambiente que lhe é concedido. Independentemente de se tratar de uma rua de Chelas ou de um bar à beira Tejo, seria uma taxa justa.


Em escassos minutos, cinco impostos indirectos. Digam-me lá se não é um negócio útil e com futuro? E ainda dizem que Portugal é um país com falta de oportunidades…

04
Out16

Às vezes…

… O Outono está dentro de nós, escondido, enquanto cá fora o Sol faz de conta que nada se passa.

roca.jpg

Dito isto, uma imagem que não volta: a “Roca”, a que a dada altura chamei “Passadeira”, porque da sua esplanada vi nascer uma daquelas passadeiras modernas que obrigam os automóveis a abrandar, fechou de vez. Mais um café que morre em Alvalade, menos um lugar onde ainda se podiam comer boas carcaças lisboetas…
… Ou visto pela positiva: no seu lugar vai nascer qualquer coisa. Não é essa a lógica da vida?

02
Out16

Like. Don’t like.

Aqui há uns tempos, em conversa com um amigo sobre esta coisa das redes sociais e da interacção entre conhecidos, desconhecidos, e vagamente conhecidos, ele fez-me uma revelação a um tempo assustadora mas também clarificadora.
Disse-me que ao domingo, ao final da tarde, reservava sempre uma hora para navegar no Facebook. E o que fazia? Além de actualizar a lista de pedidos de amizade, corria o “feed” que o algoritmo tinha escolhido para o seu ecrã, e fazia o que chamava de “plantar likes”. Com algum cinismo, explicava-se:
- Vou andando com o cursor por ali fora e ponho likes naqueles que têm poucos likes, nos posts ou fotos das raparigas que talvez um dia venha a querer conhecer, nos posts que realmente têm graça, e nalguns que, não tendo graça alguma, me fazem sentir pena ou piedade.
Conhecendo este amigo (e amigos respeitam-se!), não me surpreendeu a atitude, entre o cínico e o sobranceiro. Mas confesso que, desde esse dia, deixei de dar atenção aos “likes” do Facebook, a quem os põe, a quem os replica. Passaram a constituir meras trocas de olhares sem significado.
Quem quiser que um “like” seja mais do que um “like”, vai dar sinal de si. E quem não quiser, estará provavelmente a fazer o mesmo que este meu amigo faz: “plantar likes”.

Don’t like.

Blog da semana

Gisela João O doce blog da fadista Gisela João. Além do grafismo simples e claro, bem mais do que apenas uma página promocional sobre a artista. Um pouco mais de futuro neste universo.

Uma boa frase

Opinião Público"Aquilo de que a democracia mais precisa são coisas que cada vez mais escasseiam: tempo, espaço, solidão produtiva, estudo, saber, silêncio, esforço, noção da privacidade e coragem." Pacheco Pereira

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