Ter saudades de quem se gostou (mesmo de quem, quase sempre…se discordou)
Quando morreu, cedo demais, há 5 anos, senti que partia uma “das minhas”. No entanto, ela vinha de uma classe social que não é a minha, era assumidamente de direita (os anos fizeram-me mais livre e equidistante de todos os dogmas, mas nunca um homem de direita…), e nem sequer pertencia ao meu grupo de amigos ou conhecidos.
Porém, pelas entrevistas que lhe fiz em rádio, televisão e imprensa, pelos contactos tidos, pelas conversas pessoais (que, dado não ser jornalista/arquitecto, nem me passa pela cabeça revelar...), senti sempre a Maria José Nogueira Pinto como uma “das minhas”. Clara, frontal, corajosa, inteligente. Respeitadora. Dava o braço a torcer com a mesma convicção com que defendia uma ideia. Tinha uma vantagem rara entre nós: só falava do que sabia.
Como se não bastasse, um apurado sentido de humor, sendo capaz de gozar consigo própria - o que mostrava que não se levava demasiado a sério, sinal superior de inteligência. Vamos todos morrer. Como se não bastasse, era bonita, elegante, luminosa (não vejam esta frase como machista, uso-a com homens e mulheres).
Os castelos de cartas são mesmo assim: por ter conseguido, com sucesso, passar para o Youtube, e daí para o Blog, um CD com um formato esquisitíssimo que julgava guardar toda a conversa que tive na RTP com o Professor João Lobo Antunes (afinal tem menos de meia-hora, o resto há-de estar numa VHS, sei lá onde…), repeti agora a experiência com um bocado da conversa que tive com a Maria José Nogueira Pinto, no mesmo programa, “Falatório”, em 1987.
E só pelo que ela diz sobre as Juventudes dos Partidos - lá está, um dos muitos pontos em que estávamos de acordo - vale a pena a meia-hora.
Mas a mais pura das verdades é esta: ouvi-la, lembrar o sorriso e a inteligência, o humor e a verdade, deixou-me cheio de saudades. Dela, sempre. E (ía escrever de políticos, mas é bem mais do que isso…) de pessoas como ela.