“Como vão os jornais sobreviver ao tempo dos factos alternativos?”, interrogava-se, com alguma ironia, o “Times”. Faço minhas as interrogações do jornal. Porém, vejo-as válidas também no sentido contrário: quem nos garante que, por serem assinadas por um jornal, ou relatadas por um canal de cabo dedicado a noticias, os factos correspondem ao que efectivamente ocorreu?

Foi o que pensei quando vi a cena da joelhada – digna de um clube de futebol de um país de terceiro mundo, impossível numa geografia que pretende ser respeitada como país da Europa. Sabendo embora que o futebol tem um lado irracional, em que o imponderável domina, acreditei, até agora, que as autoridades, os serviços de informação, enfim, quem controla claques - e energúmenos que se dedicam a dar cabo do melhor que o futebol pode ter -, saberiam por onde anda esta espécie de pessoas, e do que são capazes, não apenas no dia do mediático encontro entre clubes rivais, mas nos outros dias. E especialmente nos outros jogos - por acaso, o dos medíocres clubes a que fingem pertencer, jogando tão mal que envergonham a claque que lideram...

Afinal, estava enganado. As autoridades vestem a farda no dia do desafio, e depois deixam à solta estes seres, permitindo que se chegue ao cumulo de acharmos que só pode ser mentira o que, afinal, foi mesmo verdade.

O que daqui resulta é mais simples e óbvio do que se julga. “Fake news” e “pós-verdade” não são mais do que o clássico grito de uma qualquer tia: “Eu nem tou a acreditar!”. O problema é que, nos dias que correm, nem a tia acredita, nem eu. Já ninguém acredita. Diria a tia: “vê-se de tudo!”. E tem razão. Às vezes, a pior verdade acontece mesmo. Não é mentira.