O nome dela é Assunção Cristas
Não espero de um novo Governo – mesmo tendo contribuído para a sua eleição -, o milagre dos pães ou o paraíso depois do pântano. Já ando cá há anos suficientes para saber como funciona o “centrão”, e como Bernardino Soares teve razão, ontem, no Parlamento, quando sentiu o “deja vu” dos lugares que se trocam: o PS diz o que PSD dizia, o PSD/CDS agora é o PS “que está”. Não há milagres nem pão para malucos.
Espero deste Governo, em boa verdade, pouco mais do que a diferença do “estilo Sócrates”: mais verdade, mais humildade, menos arrogância, menos clientelismo, menos boys, menos propaganda, mais factos, mais acção. Tudo isto subsiste no domínio da atitude, não do conteúdo. Porque, quanto ao conteúdo, sabemos mais ou menos o que aí vem. Se puder haver melhor justiça, já é um passo em frente. O resto, é “malhar” em cima de nós.
Como se vê, expectativas baixas.
Porém, um sinal mais: a entrevista de Assunção Cristas à TVI-24, ontem à noite, mostrou uma mulher informal, aberta, humilde (sem deixar de mostrar segurança), e com uma incomum capacidade de encaixe. Mesmo quando o jornalista lhe chamou “a miúda do Governo”, Assunção não perdeu o sorriso tranquilo. Respondeu a tudo, explicou as vantagens do seu super-ministério, foi clara na conciliação de ambiente com o ordenamento do território, ou a agricultura, e com isso deixou-me respirar fundo. Quando foi apanhada na curva, disse sem medos “ sobre as barragens ainda não sei nada”. Respirei fundo segunda vez. É normal, tem oito dias de Governo.
Por contraste com o estilo Sócrates, foi como se tivesse renascido a governação de “face humana” inventada (e bem) por António Guterres e muito rapidamente esquecida por todos, de um lado ao outro do hemiciclo.
Talvez Assunção Cristas venha a ser a imagem de uma nova geração de políticos. Com pena minha será, uma vez mais, ver à direita o que era “obrigação” da esquerda. Infelizmente, está a tornar-se comum.