Foi sem querer
No Hotel que eu e o João Gobern gerimos, não há férias – Agosto é mês de porta aberta, ainda que alguns programas sejam gravados com generosa antecedência para que o João possa pôr os livros e os DVD’s em dia, assistir ao renovado Benfica com a atenção ainda mais focada, e descobrir mais música - e eu possa procurar a sardinha perfeita (estou longe disso, este ano, até agora...), testar o thesaurus dos sabores, e os mil projectos que vão potencialmente cobrir o orçamento agora a descoberto...
Um desses programas “especiais” de Agosto é dedicado a Elis Regina, como se pode “ouvir” num post uns centímetros abaixo... Quando estava a escolher canções e ler sobre a “Pimentinha”, passei por esta versão do fabuloso “Cais”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, e como o vídeo do You Tube era lindo, naquele contraste forte do preto e branco, postei-o sem pensar duas vezes.
Há bocado voltei a ouvir a canção. E descobri o Portugal de hoje em toda ela, do cais à procura da felicidade, do momento de “me lançar” à invenção “do sonhador”. Leiam este poema e digam-me lá se isto não somos nós, hoje, entre a Moddy’s e a austeridade, o mar aqui ao lado, o tempo perdido, o sonho adiado.
Somos nós, não somos?
Ou serei só eu?
“Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar”
Deixo uma outra versão notável, de Milton com Simone. Assim: