Nada me surpreende, nem o excesso de criatividade
O Governo está a “inventar” uma fórmula de cálculo para aplicar o imposto sobre o “subsídio de Natal” aos trabalhadores independentes, vulgo “recibos verdes”. É o meu caso.
Confesso que, nos dias que correm, acho tudo possível, até cobrarem por hora de sono, mergulho no mar, ou pela utilização do ar – mas não tinha ainda chegado ao ponto criativo a que os nossos governantes conseguem chegar: eles vão taxar sobre um subsídio que não recebemos, calculando a partir de um rendimento que não tem 13º mês. Ou seja, vão taxar sobre o vazio – mas curiosamente, esse vazio vai resultar em centenas ou milhares de euros por cada contribuinte. Nem o Luís de Matos conseguiria esta proeza.
Não tenho subsídio de férias nem de Natal. Não tenho qualquer espécie de regalia equiparada à mais básica que têm os trabalhadores por conta de outrem. Tenho férias quando posso, ou quem me contrata deixa – e quando deixa, é mau sinal, porque fico sem trabalho, logo, sem rendimento. Mas, como diria a Teresa Guilherme, “isso agora não interessa nada”: “inventa-se” o que não existe para cobrar o que não se ganhou. Em linguagem comum, eu chamaria a isto uma vigarice. Um roubo. Assalto à mão armada.
Mas é imaginativo. Lá isso é.
Em nome da crise, vale tudo. Até tirar olhos.
(O problema é se, um dia destes, aqueles que sofrem directamente com este tipo de injustiças decidem dar o troco na mesma moeda e achar que vale tudo menos tirar olhos – mas agora no sentido contrário. Temo o pior.)