Daqui ninguém sai vivo?
Tenho visto por aí muita morte anunciada de Murdoch, muita machadada no jornalismo tabloíde, muita gritaria desenfreada. O império de Rupert Murdoch tem uma dimensão que se presta ao ódio e à inveja, e isso ajuda a explicar algumas opiniões. É a velha história do “dá-lhe agora, que está a cair”.
Mas há algo de que se tem falado menos: o que está em causa são práticas jornalísticas. Ou seja, ilegalidades e abusos cometidos por jornais, assinados por jornalistas, caucionados por editores. Não vivem em redomas nem vieram agora das trevas – são pessoas como nós, jornalistas em países civilizados como o nosso, trabalhando num negócio igual ao dos nossos jornais. Nessa medida, o que está a ocorrer em Inglaterra é, independentemente do que a justiça venha a apurar, e para lá de tudo o que ética e moralmente possamos pensar, um violentíssimo e duro golpe sobre TODA a imprensa de TODO o mundo ocidental.
Aliás, já li por aí vozes a clamar por Portugal, dizendo que sabemos mais sobre as escutas inglesas do que sobre as que se praticam por cá. O que quer isto dizer?
Simples - quer dizer que por sobre a hecatombe da informação gratuita e rápida que tem feito estremecer a imprensa nos últimos anos, e por sobre a crise económica que afasta anunciantes e compradores, paira agora o mais terrível dos espectros: o do fim da credibilidade, associado ao crime organizado. Falta muito pouco para não haver uma só razão que justifique a existência de jornais. E era bom que pensássemos um bocadinho sobre este facto antes de atirar a matar sobre o velho Murdoch – porque aquela é apenas a ponta de um gigantesco iceberg.
Daqui ninguém sai vivo? Palpita-me que sim.