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Pedro Rolo Duarte

25
Jul11

Uma ideia morta

Gosto muito de aforismos, citações, ideias fortes que algum dia alguém teve a felicidade e a fortuna de condensar em uma ou duas frases. Quando comecei a trabalhar, tinha alguma vergonha de dizer que coleccionava Dicionários de Citações, porque achava que era um reconhecimento do gosto por uma cultura digest, uma espécie de fast-food das ideias. A idade é determinante para ganharmos conforto com o nosso modo de ser, e de viver – e hoje orgulho-me do meu gosto, como não escondo o meu fascínio pelo I-Ching ou a mania de cheirar jornais acabados de imprimir...

Mais recentemente percebi que não estava sozinho no mundo do gosto pela citação – e ainda hoje recordo uma edição do Caderno 3 de “O Independente” que dedicámos aos aforismos, e outra no DNA que juntou as frases mais interessantes publicadas no próprio suplemento. Não falando do “Melhor do Mau Humor”, a prodigiosa colecção de frases “assassinas” que Ruy Castro juntou em livro.

Sempre que posso, a propósito de tudo e de nada, lá vou buscar um dos meus livros. E se procuro uma frase sobre - “oh meu deus”... - o amor, acabo sempre a ler sobre religião, comida ou gatos. Vou andando, como um melómano perdido numa discoteca.

Foi o que me aconteceu agora. Queria uma boa frase que dissesse algo sobre o horror de Oslo, o terror daquele olhar desafiador, o “assassino com cara de pianista”, como bem descreveu a Rita Ferro.

Dei comigo a percorrer o Dicionário de Citações de Ettore Barelli e Sérgio Pennacchietti, um dos mais completos que conheço (além de notas sobre os autores das frases, publica as versões originais e traduzidas, e está organizado de uma forma particularmente incomum, mas muito prática). Passei pelo medo, pela guerra, pela morte, até chegar ao “fanatismo”, subsecção que compreende apenas duas citações. Uma delas está, na aparência, longe do fanatismo. Na verdade, está totalmente mergulhada nele. E nessa imersão encontro os olhos frios de Anders Breivik:

“Uma ideia morta produz mais fanatismo do que uma ideia viva. Ou melhor, apenas a morta o produz. Pois os estúpidos, assim como os corvos, sentem apenas o cheiro das coisas mortas”.

(O autor da frase é L. Sciascia, escritor italiano)

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