Da importância de escolher as palavras certas
A editora onde publiquei os meus três livros tem vindo a fazer limpezas nos armazéns. O espaço custa dinheiro, o stock é dinheiro, e não há dinheiro a perder, já que o tempo, esse, foi há muito perdido.
Há um ano, ofereci aqui no blog umas dezenas de exemplares do “Fumo” que sobraram justamente de uma primeira vaga de extinção de stocks que a editora não consegue escoar, ou que os livreiros não querem ver pela frente – conforme o ponto de vista…
Agora, veio uma nova vaga para o “Sozinho em Casa”, que é o livro “do meio”. Ficará a faltar o primeiro, “Noites em Branco”, que desconfio já nem existir…
Sempre achei que as palavras que se usam são exemplares sobre a forma como se pensa aquilo sobre o que se fala. Por exemplo, nunca gostei dos profissionais que, nos jornais, se referiam às fotografias chamando-lhes “bonecos” ou “chapas”, como sempre me encanitou os leitores que chamam noticias a tudo, seja uma entrevista ou uma crónica. Não é igual ouvir alguém dizer “li um poema” ou dizer “li uns versos”. Um poema é um poema. Uma fotografia é uma fotografia. E uma reportagem não é uma entrevista. Independentemente de me irritar, o facto das pesssoas usarem estas designações, e não outras, diz muito sobre elas, sobre a relação que têm com o tema a que se referem, e diz mais ainda sobre o entendimento social e cultural do que pode estar em causa.
Tudo isto a propósito da editora que me mandou mais um mail sobre a extinção do stock final do “Sozinho em Casa”.
Titulo do mail: ABATE DE LIVROS.
Não sei porquê – ou se calhar sei – lembrei-me de carne, de talhos, de matadouros. Há palavras lixadas.