Na arena
Sempre que regressa o tempo das touradas, e elas ocupam tempo de antena nas televisões, lembro-me de que sou Touro de signo. Não gosto de touradas, não acho graça ao espectáculo, ao desequilíbrio de forças entre homem e animal – afinal, só cortam os cornos ao touro, para não falar do que nos distingue dos outros animais... -, mas também não consigo alimentar aquele fundamentalismo anti-touradas, como se ali estivesse o ultimo resquício da “labreguice” humana. Digamos que faço parte do grupo dos indistintos que não assistem nem cultivam, mas admitem a tradição e o gosto dos aficionados com o mesmo respeito que nos merecem os defensores das causas animais.
Dito isto...
Há sempre um bocadinho de tourada que me prende ao televisor. É aquele em que eu, do signo Touro, me identifico com o animal que está a ser achincalhado na arena. É o momento da pega. Tal como o Touro, quando sou provocado ou desafiado, demoro tempo a decidir. Começo por ignorar ou fazer de conta. Fico parado a olhar o meu objectivo, ou quem me desafia. Interrogo-me sobre o sentido da minha eventual atitude. Só dou sinal de que vou agir quando efectivamente sei que vou agir.
Depois, quando decido, tomo balanço e vou em frente. Mesmo que seja para enfrentar uma parede de cimento, vou em frente e marro a direito. Haja o que houver.
Nisto, neste duplo-momento – ser confrontado e decidir – sou como um touro na arena. Lento no começo, imparável a seguir.
Por ser assim, já fui feliz. Por ser assim, já sofri. Por ser assim, sou este.