Há 10 anos (III)
(Excertos de coisas escritas há 10 anos, por alturas de Setembro)
Não sei porquê, mas é sempre da paz que me lembro quando me falam de guerra. Talvez a procure sem dar por nada, talvez ande aqui com o texto, para a frente e para trás, para cima e para baixo, à procura de restos dessa paz que eu já vi de perto mas só escassamente vivi por dentro. Eu avisei no princípio: nunca estive perto nem longe da guerra. Mas agora, pensando bem, pergunto-me: e alguma vez estive na paz? Tinha avisado, sou igual a si: a minha guerra é a minha vida. Estou em guerra? Julgo que sim, sem saber onde fica o teatro das operações e que papel me está reservado. À noite sinto a trégua, pela manhã acordo do sonho e suspiro: vamos lá a isto outra vez. À procura do cessar-fogo imediato. Onde é que ele está? Onde é que eu estou?
Pergunto-lhe então, para que deixe a paz podre dos dias iguais e pense: e você, alguma vez esteve na paz?