Entre tachos e panelas
Sinto-me um bocado patinho feio quando se fala de televisão: apesar de oficial do ofício, vejo pouco, não sigo séries – quando as vejo, em geral, é já na versão DVD -, filmes só no cinema, e além das noticias, dos documentários e das reportagens, há pouca coisa que me prenda ao ecrã.
(Confesso: gostava de um dia apresentar um concurso como o Milionário ou algo do género, mas reconheço que já devo ir tarde para mais esse desígnio, entre tantos desta vida..)
Bom, a verdade é que fico todo contente quando um programa da grelha comum me agarra – porque gosto de poder discutir e ter opinião e sentir-me igual entre iguais. Aconteceu-me isso com a última série dos “Ídolos” (e foi comovente seguir o caminho daqueles concorrentes até à final, alimentando esperança e fé nos meus preferidos, num jogo ingénuo e sem consequências).
Por causa do meu filho – e do gosto pela cozinha... – deixei-me agarrar agora pelo “Masterchef”. Estou rendido e os meus sábados não dispensam aquela hora. Os concorrentes foram muitíssimo bem escolhidos – o tatuador Mauro é o meu favorito, também não resisto à frieza disfarçada de bonomia da arquitecta Marta, reconheço o talento superior do engenheiro Luís, fiquei triste por ver sair o sorridente publicitário Rodrigo. Mas tudo o resto é superior: o rigor técnico da realização, da edição e da montagem enchem-me as medidas, a escolha do trio de cozinheiros profissionais foi excelente, as ideias que semanalmente nos trazem são criativas, e até o papel discreto de Sílvia Alberto parece adequado àquele ambiente.
É um excelente momento de televisão que conjuga entretenimento, informação, aprendizagem, humor, jogo, num resultado inteligente e emocionalmente próximo do espectador.
Se tivesse de opinar sobre o lado mais popular e acessível do que pode/deve ser o serviço público de televisão, o “Masterchef” era o bom exemplo.
Não cuidei de ver se é um sucesso de audiências ou não. Basta-me ter a certeza de ser um bom programa de televisão.
(... Mesmo que, lamentavelmente, me reduza à ínfima expressão da minha existência na cozinha. Apesar dos momentos felizes no domínio da açorda ou da paelha, ao pé daqueles concorrentes eu sou ainda um zero à esquerda. Tenho muita farinha para comer... E muito Masterchef para ver.)