A democracia é como um relógio suíço
A democracia nunca falha. A hora que dá é a hora que é no lugar onde está. Acerta sempre – e o que dela resulta é o que a democracia é, onde se diz que está.
Há um ano, na Islândia, a democracia, num país civilizado, culto e politicamente instruído, levou o seu ex-primeiro-ministro Geir Haarde a tribunal para responder à acusação de negligência no colapso do sistema financeiro do país em 2008 e ao falhanço dos mecanismos para evitar a crise e gerir as suas consequências.
Ontem, na Madeira, a democracia, num país pouco civilizado, inculto e sem qualquer nível de instrução politica, renovou a maioria absoluta de um homem que tem uma ilha economicamente a naufragar e se prepara para afundar o que dela resta.
Impávidos e serenos, os seus pares no continente assistem a tudo isto sem piar.
No pior e no melhor, a democracia é assim mesmo e não falha: dá todas as oportunidades para que o povo, soberano e em maioria, se manifeste. Quando os governos contribuem para que o povo julgue com consistência e saber, em consciência e com cultura politica, estamos na Islândia. Quando os governos fazem tudo para que o povo vote em slogans, demagogia, inaugurações e betão, e garante o sossego da ignorância com um voto tranquilo e seguro, estamos em Portugal.
Alberto João Jardim não é diferente da esmagadora maioria da classe política que governa o continente desde 1974. Cultivam todos a ignorância, apostam tudo na demagogia, e vivem na expectativa de vencer o desconhecido.
Jardim dá nas vistas, tem mais lata, e diverte-se com a sua forma de exercer a governação - o que acaba por o distinguir dos seus pares. Mas isso seria um pormenor, não se desse o caso de esconder uma tragédia. Lá está: votaram nele. Espero que o aturem. Especialmente, espero que desta vez os madeirenses “aturem” também o custo financeiro da lata habitual de Alberto João Jardim.