Vergonha alheia
As imagens da morte de Muammar Khadafi e dos momentos que a rodearam enchem-me de vergonha alheia.
Não me interessa de quantos mil mortos ele foi responsável – não partilho da lei de talião que reza o clássico “olho por olho, dente por dente”. Por isso, gostava que tivesse sido capturado com respeito e julgado com justiça. E também por isso, receio pelo futuro da Líbia: não acredito que a mesma gente que mata e vibra com a morte desta forma desprezível e desumana seja capaz de se converter a uma qualquer espécie de civilização razoavelmente próxima da democracia.
Da mesma forma, noto que os mesmos que se sentaram à mesa com Khadafi, sabendo bem quem era e de que forma governava, saúdam agora a sua morte, duplicando em mim a vergonha alheia.
Às vezes gostava de não ser pessoa, para não ter de me sentir, pelo menos na aparência, igual a esta espécie de meus semelhantes.
O mundo desilude-me diariamente.
E todos os dias eu respiro fundo e digo para mim mesmo: vai ser melhor, vai ser melhor.
Mas há dias difíceis.