Fazer parte do problema
A educação dos meus pais, dos meus melhores professores, e até uma breve passagem pela juventude comunista na adolescência, ensinaram-me que a critica presume a alternativa. O “não porque não” pertence à infância.
Se entendo que algo é condenável, criticável, ou constitui uma medida que vai contra o que acho razoável e justo, tenho o dever (não é uma obrigação, claro, embora eu a sinta como tal...) de ter alternativas e soluções melhores.
É a velha história do tipo que entra no gabinete do chefe e diz:
- Chefe, temos um problema!
- E tem solução para ele?
- Não, chefe.
- Então você faz parte do problema.
Ora bem. Eu não tenho solução melhor para o momento que vivemos do que a maioria das respostas que o Governo lhe está a dar. Não é uma questão de estar de acordo ou de “desejar” – é um problema de falta efectiva de alternativa.
Que me custa? Custa.
Que vivo do meu trabalho e vivo hoje pior do que há cinco anos? Vivo.
Que gostava de ver julgados e penalizados aqueles que nos aldrabaram ao longo de anos e anos, conduzindo-nos direitinhos ao abismo? Gostava.
Mas que não vejo outro caminho, salvo em aspectos pontuais aqui e ali menos bem cuidados? É isso, não vejo.
É por isso que não participo na Greve Geral. Só participaria se pudesse dizer: o que está a ser feito é mau, mas olhem que eu tenho aqui muito melhor.
Não tenho. Não vejo quem tenha. Infelizmente.