Velocidade limitada, num instantinho
Às vezes faz-me falta uma câmara de filmar.
Gostava de poder registar, em tempo real, aquilo a que assisto, e vivo, como condutor, todas as semanas, na Avenida Marechal Gomes da Costa. Vou tentar contar.
…Eu venho a 80 ou 90 quando saio da Rotunda do Aeroporto. Ninguém atravessa aquela artéria, circula-se com segurança, o viaduto que se segue é a direito, e não há uma só razão para circular a menos de 80. De repente, à minha frente, começa o enxame de luzes vermelhas, de travões a serem accionados, e então lembro-me: ah, é o radar...
Lá está ele, solene, avisador, amigo do seu amigo: 50 Km/hora. Todos os veículos abrandam, e passam naqueles 100 metros, mais ou menos em frente à RTP (onde, sublinhe-se, só há uma forma de atravessar a estrada: por uma passagem superior), como se fosse domingo e a vista deslumbrante. Não é uma coisa nem a outra. Cem metros volvidos, pé no acelerador e volta tudo aos 80, 90, 100, a caminho do Tejo ou do Parque das Nações, justamente onde há semáforos e passadeiras e acidentes.
A imagem é notável. Como se naqueles 100 metros de avenida a vida passasse em “slow motion”, para logo recuperar o seu ritmo normal mais à frente. Como se eu estivesse a escrever um texto com determinado ritmo e deee rrreeeeppppeennntte abbbbrrrraannndasse muuuuittto,,, para depois voltar à normalidade.
É assim que funciona o radar nas ruas da cidade.
Às vezes faz-me falta uma câmara de filmar. Neste caso, para mostrar, mais do que explicar, como a nossa manhosa e triste forma de nos relacionarmos com as regras, as leis, e o policiamento, resulta da mesma forma manhosa como nos são impostas as regras, as leis, e o policiamento. Estamos bem uns para os outros.