Sobre a má publicidade
Esta noite tive um pesadelo: conduzia pela Avenida da Liberdade um carro novo, acabado de comprar, mas cujo cheiro, ou cor, ou algo que eu não controlava, atraía animais selvagens de toda a espécie: leões, tigres, cobras, aranhas gigantes.
Acordei transtornado. E lembrei-me imediatamente de um anuncio que anda a passar nas televisões, de um modelo novo da Mitsubishi, em que um carro é perseguido por estátuas de pedra que inesperadamente ganham vida.
O filme é medonho, assustador, certamente motivado pela mais absurda insensibilidade ou – temo que seja o item certo – pela falta de imaginação para inventar mais uma campanha sobre carros de cidade que são todo-o-terreno. De qualquer forma, o “reclame”, como diria o meu pai, provocou-me um pesadelo. Os estudiosos dirão que foi “impactante” e mexeu comigo, logo, um sucesso, distinguiu-se da “multidão” de anúncios de automóveis. De acordo. Mas também me deu uma certeza muito pouco comercial: não quero jamais ter ou frequentar um carro daqueles. Mitsubishi? Modelo XPTO, que nem consegui fixar? Não, obrigado. Vou bem a pé. Apanho um táxi. Tenho o carro já ali à frente.
Gosto de carros que não atraiam “cenas”. Esquisitas. Gosto de carros que atraiam “cenas” normais. Ou não atraiam nada, que ainda é o mehor.