O que é preciso é “saudinha”
Anda toda a gente muito exaltada, acirrada, enervada. Não é para menos, que o momento é tenso e duro – mas daí a tornar manchete uma frase inócua de Pedro Passos Coelho, porque pediu que não fossemos piegas, parece que entrámos no domínio do delírio.
Não alinho nisso.
Acho que um politico não pode insultar, mentir, ofender, achincalhar, humilhar, fazer de nós parvos, e ser negligentemente surdo. Ou seja, não pode ser como Sócrates quando mentiu, não pode ser como Cavaco quando falou das suas contas pessoais. Mas pode pedir para não sermos piegas.
O mais saudoso Presidente americano, John Kennedy, também nos deixou coisinhas meigas e nem por isso é menos admirado e lembrado. Uma para amostra: “Não reze para ter uma vida fácil. Reze para ser um homem forte”. Não falando em Churchill, que nos deixou dezenas: “O vício do capitalismo é a distribuição desigual de benesses; o do socialismo é a distribuição por igual das misérias”...
Não estou a comparar o génio destes com o modesto percurso de Passos Coelho, estou apenas a tentar dizer que os políticos, mormente os governantes, não deixam de ser pessoas e de poder fazer afirmações num estilo informal. Mário Soares terá sido, nesse domínio, o primeiro a saber conjugar a linguagem acessível, até mesmo o desabafo de ocasião, com a elegância e o estatuto.
Dito isto, e aqui entre nós, quando ouvi o primeiro-ministro falar de piegas, dei-lhe alguma razão. Lembrei-me logo dos gerentes de restaurante e dos taxistas a quem, em anos de crise ou de vacas gordas, na miséria ou na riqueza, se perguntarmos como vai o negócio, nunca deixam de ensaiar o discurso (piegas) da lamúria (lembrando Sampaio): “ah, sabe lá, isto anda mal, o negócio já não é como era dantes...”.
Um estilo que vem de longe e se remata com o clássico “saudinha é que é preciso”. Pois é. Mas concordo que este é um bom momento para tentarmos ser menos piegas. Menos queixinhas. E mais chegados à frente.