Passado a limpo
Ao ver, na televisão, o ar surpreendido e indignado do líder da Oposição, António José Seguro, face aos números do desemprego (e do desemprego jovem, em particular), interroguei-me sobre o país onde terá vivido o secretário-geral do PS nos últimos anos. Dizem-me que ele se opunha a Sócrates, mas isso não responde à minha questão:
- Onde raio terá vivido António José Seguro nos últimos anos para achar que pode mostrar-se surpreendido com a miséria em que vivemos? Qual é a parte de “nem há um ano era o PS que governava” que ninguém lhe recordou?
Tira-me do sério esta ideia de que passar à oposição significa em simultâneo “passar a limpo” o passado e começar do zero. O PS já fala como se estivesse na oposição desde, pelo menos, Outubro de 1910 - e isso traduz um pântano político sem nome.
Alguém devia explicar a António José Seguro que persistir na inversão de papel a cada mudança – e repentinamente aparecer como se acabasse de deixar uma tribo aborígene e aterrasse em Portugal, além de fazer do eleitor um atrasado mental, é mero fogo-de-artifício numa situação que todos, em rigor, vivemos e conhecemos.
O meu conselho é este, António José Seguro: deixe de fazer teatro, e pense que, de cada vez que fala “aos portugueses”, está a falar aos mesmos que não quiseram mais ouvir o nome de José Sócrates. Das suas políticas. Do Portugal do TGV e do Magalhães – o país que estava falido mas fazia de conta. Ou seja: pense que tem direito à Oposição, mas tem de ter respeito por quem não mandou a memória dos factos para Paris, ou para a administração de uma qualquer empresa ligada ao regime.