09
Fev08
“Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve”
A nota introdutória (de Helder Godinho) remete-nos para um tempo distante. Ele fala das palavras sobrepostas, das diversas cores que o escritor utilizou, das diferentes caligrafias – mais definitivas, impulsivas, ou nada disso... -, e do trabalho que teve para trazer à tona de água a versão final, próxima daquela que desejaria o autor. Nunca saberemos se conseguiu. Sabemos que deu o melhor de si. Infelizmente, mestre Vergílio Ferreira já não está entre nós para rematar «Escrever», o segundo livro póstumo que a Bertrand acaba de editar. E o professor, sabe-se bem, nunca aderiu às novas tecnologias: escrevia à mão, passava à máquina e revia tudo com o seu punho.
Quando o entrevistei para a revista “Capa”, anos depois de ter sido meu professor no Liceu de Camões, a máquina de escrever ocupava o centro da sua mesa de trabalho - mas quando me pediu para rever o texto que resultou da nossa conversa («só para ver se sempre foi útil o que lhe ensinei no liceu», desculpou-se), foi à mão que assinalou uma ou duas correcções. Justas e merecidas.
Nunca mais me esqueci daqueles dias em que me confrontei com as suas palavras ditas, gravadas, ouvidas, escritas. Tanto ensinamento em tão pouco tempo.
Agora, mais um livro aí está. São 250 páginas de reflexões, as mais das vezes curtas, do escritor. Ideias que dão horas e horas de reflexão. Momentos, sinais, luzes. Leio, em duas noites seguidas, todo o livro. Não me apetece, depois de o ler, ter a mais pequena ideia ou escrever duas frases consecutivas. Nada. Apenas espalhar as frases e as ideias do Professor. E acrescentar este dado irrelevante: escrevo esta crónica directamente no computador – mas, secretamente, apetece-me voltar à caneta e ao papel. Quem sabe não me deixaria fascinar pelas palavras outra vez? Os mestres não têm sempre razão? Para mim, sim.
Ora vejam: «Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve. Portanto não te comovas muito, mesmo que ele se queixe».
Quando o entrevistei para a revista “Capa”, anos depois de ter sido meu professor no Liceu de Camões, a máquina de escrever ocupava o centro da sua mesa de trabalho - mas quando me pediu para rever o texto que resultou da nossa conversa («só para ver se sempre foi útil o que lhe ensinei no liceu», desculpou-se), foi à mão que assinalou uma ou duas correcções. Justas e merecidas.
Nunca mais me esqueci daqueles dias em que me confrontei com as suas palavras ditas, gravadas, ouvidas, escritas. Tanto ensinamento em tão pouco tempo.
Agora, mais um livro aí está. São 250 páginas de reflexões, as mais das vezes curtas, do escritor. Ideias que dão horas e horas de reflexão. Momentos, sinais, luzes. Leio, em duas noites seguidas, todo o livro. Não me apetece, depois de o ler, ter a mais pequena ideia ou escrever duas frases consecutivas. Nada. Apenas espalhar as frases e as ideias do Professor. E acrescentar este dado irrelevante: escrevo esta crónica directamente no computador – mas, secretamente, apetece-me voltar à caneta e ao papel. Quem sabe não me deixaria fascinar pelas palavras outra vez? Os mestres não têm sempre razão? Para mim, sim.
Ora vejam: «Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve. Portanto não te comovas muito, mesmo que ele se queixe».
Ao sábado, reedições. Texto originalmente escrito e publicado em 2001 no site Netparque, da Parque-expo.