Pode parecer declaração de parte interessada, mas não é. E dá-me igual que pensem que é.
Entendo o futebol como entendo a música ou o cinema, a literatura ou a culinária: todos temos os nossos gostos, as nossas preferências, e isso não faz de nós piores pessoas. Pelo contrário: faz de nós pessoas - logo, melhores pessoas.
Quem comenta, critica, analisa, estas artes e actividades, não deixa de ter preferências pelo facto de comentar. Lembro-me sempre do meu pai, que muitas vezes me dizia que só valia a pena dizer mal do restaurante que nos desilude por ter obrigação de ser bom, não daquele que sempre foi mau. Ou seja, merece bola preta aquele de quem esperamos cinco estrelas e não nos convenceu.
Neste quadro, não consigo perceber a polémica que envolveu o meu amigo, “sócio” e compadre João Gobern – e o consequente afastamento do programa Zona Mista, na RTP-I. O facto de ser benfiquista nunca fez dele um comentador menos rigoroso (até já ouvi acusações de que era excessivamente exigente para com o Benfica...), e não conheço um só amante de futebol que não vibre com as vitórias do seu clube. É o mínimo. É o âmago da coisa.
Entender o futebol como ciência e tratá-lo como assunto político – em que cada clube é um partido – é absurdo, estapafúrdio, e paradoxal com o próprio futebol, na essência uma actividade lúdica e que naturalmente legitima paixões. Não perceber isto é levar a vida demasiado a sério – “não bom”, como gosto de dizer...
Como se não bastasse, o caso serviu para alimentar a gritaria sobre o serviço público de televisão. Já percebi que agora é mesmo assim: qualquer coisinha que ocorre nos canais estatais de comunicação e aqui-del-rei que é o serviço publico e o povo a pagar e o catatau. Fica escrito: os mesmo que agora reclamam ainda vão ter muitas saudades do tempo em que havia dois canais de serviço publico de televisão. Como vão ter saudades da inteligência, do saber e do falar português (tão cada vez mais raro...) que o João levou à Zona Mista.