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Pedro Rolo Duarte

17
Abr12

Da Austrália à Catedral da Luz...

O meu filho António Maria, 16 anos*, tem uma mãe sportinguista e um pai benfiquista. Fez a sua escolha. A certa. A avó sente-se reponsável - e por mim, pode ser. Foi ela, afinal, quem o inscreveu no clube à passagem do primeiro ano de vida...

Actualmente, o António Maria estuda na Austrália, perto de Brisbane, na Gold Coast, e quando fez a mala para a longa viagem teve de ser comedido na bagagem, não cabia tudo. Mas é claro que couberam o cachecol, a bandeira e a camisola do Benfica. Às vezes vejo-o online no Skype nos momentos em que o clube joga - e lá, do outro lado do mundo, é de madrugada...

Por tudo isto, lembrei-me de lhe pedir um post para o blog Catedral da Luz, onde escrevo bem menos do que gostaria, mas de que me sinto "sócio"...

Ora bem, foi este o post que ele me mandou, que está lá no blog, e até me comovi ao ler...

 

“Quando eu era pequeno o meu pai dizia-me que nas visitas ao estrangeiro um português ao admitir a sua nacionalidade é sempre bombardeado com as palavras “Benfica” e “Eusébio”. Como jovem inocente que era, acreditei e cresci a pensar na enormidade do glorioso, e como sempre seria admirado quando visitasse outros países.

   Há dois anos, fui de visita à China. Em Pequim, quando disse ser de Portugal, falaram-me em Cristiano Ronaldo. Que falta de tacto. Mas são chineses, pensei. Não deviam bem perceber o que estavam a dizer. No fundo, não faziam bem parte do estrangeiro a que o meu pai se referia. Era um outro mundo.

   Então, este ano quando ficou decidido que iria estudar para a Austrália, o entusiasmo voltou a crescer. Iria obviamente ser acolhido como um herói. Vesti o meu fato de treino do Benfica para a viagem, e aguardei pacientemente que multidões se juntassem a mim gritando “Eusébio” e “Benfica”. Estranhamente, nada aconteceu. Mas eram aeroportos e aviões, e raciocinei que toda a gente estaria a tentar seguir as regras da boa educação e tentar não incomodar os demais viajantes.

   Quando cheguei à Austrália, tive finalmente que me confrontar com a realidade. Os australianos não sabem o que é Portugal nem onde se localiza. Pior: não sabem o que é o Benfica. Se acham que é suficientemente mau, então vejam o seguinte: os poucos que reconheceram o nome do país, falaram-me de novo em Cristiano Ronaldo.

   E assim entrei em depressão. Longos dias de choro, agarrado ao cachecol do glorioso. Mas houve um momento em que tudo mudou: o Benfica acabara de enxotar o Zenit para fora da Liga dos Campeões. Tal feito põe qualquer benfiquista em êxtase, e eu não fui excepção. À vitória, aliei uma grande vontade de mostrar aos australianos o que é afinal isto do glorioso Benfica.

   Iniciei a angariação e doutrinação de novos fiéis. Há tantos séculos atrás instruímos os Índios na América, ensinámos-lhes latim e os princípios da igreja. Esta, seria apenas uma versão actualizada. Vesti-me a rigor, levei o cachecol e a bandeira e fui para a rua pregar. Tentei explicar-lhes que também seguimos Jesus, que temos a nossa própria catedral onde veneramos os deuses, e que também temos cânticos religiosos. Esforcei-me por ensinar-lhes o Benfiquês e a mística do clube. As primeiras palavras, obviamente as mais essenciais: Eusébio, Rui Costa, Nuno Gomes, Aimar, e por aí fora...

   Não perceberam. Especialmente, não perceberam por que é que - se éramos assim tão bons - não tínhamos Messi ou Ronaldo, e por que é que não ganhávamos ao Chelsea. Numa coisa tenho que concordar com eles. O Benfica pode ser o maior, mas de momento não é o melhor; longe vão os tempos do Eusébio. O meu pai disse-me que esses tempos voltarão. Espero que sim. Porque de momento, o melhor é o Barcelona.

   Com tudo isto, concluí que o benfiquismo é algo que nasce connosco, que nos torna únicos. “É ter na alma uma chama imensa”, e é quando libertamos um pouco dessa chama que silenciamos facilmente Old Trafford, o Petrovskiy Stadium, e na semana passada Stamford Bridge. É essa chama que me faz, semana após semana de Austrália, estar acordado às três, quatro, cinco da manhã, para ver o glorioso jogar através do pequeno écran do computador. Monto o estendal de bandeiras e cachecóis e ponho a camisola vermelha que nos identifica. E esses são os pequenos momentos de festa para nós, os benfiquistas. Nos quatro cantos do mundo, quando o glorioso joga, é um momento divino. Milhões a concentrar-nos em torno das televisões que transmitem a oração: “Ser benfiquista, é ter na alma a chama imensa, que nos conquista...”

António Maria de Penha Coutinho Rolo Duarte".

 

* Na foto, na catedral, no dia do Benfica-Sporting de 2005. Há sete anos, portanto...

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