Gosto mesmo de ler jornais
No Público de ontem, que estava a ler num momento de espera, parei numa resposta de Alain de Botton a meio da excelente entrevista que lhe fez Joana Gorjão Henriques. Fiquei ali, a ler e a reler e a remoer. Jornal em papel, e eu dentro do carro a ler e a reler. Pensei: que sorte, um jornal inteiro por apenas um euro e esta resposta cujo valor não consigo atribuir. Mas é alto.
Gosto mesmo de ler jornais, e foi no Público de ontem que li (obrigado Joana, por ter feito a pergunta que resultou nesta resposta...):
“Pensemos no amor. As relações amorosas são difíceis. Muitas vezes nas relações amorosas damos connosco a pensar: ‘Estarei doido? O que é que se passa connosco? Será que as pessoas discutem como nós?’. A televisão não mostra este tipo de discussões, mas todos sabemos que dizemos coisas sem sentido uns aos outros – mas sentimo-nos sempre muito sós nisto. Quero que um fotógrafo moderno fotografe casais nos momentos reais da vida, quando alguém diz: ‘Vai-te lixar’, e bate com a porta. Isto acontece a pessoas muito porreiras. Quero ter numa legenda: estas duas pessoas acabaram de dizer ‘vai-te lixar” mas são muito porreiras. Isso é uma coisa que a arte nos devia ajudar a agarrar: não somos monstros por nos comportarmos de maneira infantil e em pânico. Devíamos poder ir a um museu e reconhecermo-nos, para nos darmos outra oportunidade de nos vermos a nós mesmos não como monstros. Isto é uma missão para a arte: ajudar-nos, ser uma ferramenta, ter uma função. É como uma colher ou uma bicicleta.”