Quatro coisinhas sobre o Euro, no estado em que estamos, com Ronaldo
Um. A ironia dos apuramentos, ao lado da Alemanha, dos clubes do sul da Europa – Grécia, Espanha, Portugal, Itália – dá dois tipos de interpretação. Ou consideramos que isto é uma lição para o “resto” da Europa que nos encosta à parede e nos submete à austeridade, e lhe gritamos “Então? Existimos ou não?”...
... Ou permite-lhes a “eles” fazer o pleno da razão: aquela gente não sabe o que é trabalhar, passa a vida a jogar à bola, não admira que até ganhe campenonatos...
Dois. O número de programas e de comentadores que os canais de televisão – especialmente no cabo – puseram no ar nas últimas semanas, deu razão à velha ideia: em cada português, um potencial seleccionador nacional. Mas, para mim, a eleger um paradigma desta nossa especialidade espontânea que é a de comentar, comentar, comentar, não teria duvidas: escolho a mudança de nome de Oceano. Foi jogador de futebol sempre com o mesmo nome: Oceano. Renasceu como comentador do Euro 2012, e ganhou um blazer e um apelido: Cruz, Oceano Cruz. O futebol é mesmo assim, e o que conta, oiço dizer, não são os golos, mas as finalizações. Um apelido faz toda a diferença.
Três. Tenho a humildade de reconhecer que sei pouco de futebol, e que resumo o meu entusiasmo ao Benfica e à Selecção, nos momentos cruciais, ou quando o meu filho me convoca para o tema. Ainda assim, como todos os 10 milhões de portugueses, tenho aquele estranho tique da opinião. E neste caso, como no passado, o tique deu-me sempre para o mesmo lado. Que é este: sendo certo que é indesculpável que o melhor jogador de futebol do Mundo, com tudo o que isso implica, tenha “dias”, e haja “momentos”, e “jogadas infelizes”, não é menos certo que Cristiano Ronaldo tem provado, com metódica regularidade, que merece os seus créditos e que as qualidades compensam largamente algum egoísmo ou complexo de miúdo tardiamente mimado. Crucificá-lo num jogo que lhe correu mal é mais ou menos o mesmo que pedir ao Plácido Domingo que nunca desafine. Não é possível – e mesmo que fosse possível, não seria normal.
Quatro. A circunstância do Euro-2012 ocorrer no olho do furacão da crise europeia tem dado um colorido diferente à imprensa do continente, em geral, por envolver países falidos em vitórias, ou países líderes em derrotas. A Alemanha sempre de fora, claro. Mas a nossa imprensa tem aproveitado melhor esta combinação - seja pelo ironia, pelo sarcasmo, ou vá lá: pelos factos! Por mim, dou graças aos nossos jornais. Têm conseguido “triangular” os factos políticos, económicos e desportivos com o espírito que em geral nos safa da mais profunda depressão. Gosto disso.