17
Fev08
Eu também quero
Esta noite sonhei que conseguia uma mudança na lei do jogo, "totalmente imperceptível" e "insusceptível de ser interpretada como relacionável com a clarificação da situação" financeira em que me encontro.
Esse retoque suave na legislação teria uma “formulação genérica e abstracta” – tipo, “os números da aposta no Totoloto com a matriz 045-03401605, de 16 de Fevereiro, são automaticamente gratificados com o primeiro prémio integral da semana” –, e passaria despercebida aos olhos dos papalvos, que são vossas excelências, os portugueses, “quer pela simultaneidade da sua publicação com as demais alterações de artigos do mesmo Decreto-lei, quer pela sua, insusceptível de ser interpretada como relacionável com a clarificação da situação concreta”.
Esta noite sonhei com um país onde toda a actividade económica, obviamente regida pela classe política, era legislada de forma "totalmente imperceptível" pela cambada de atrasados mentais que habita o rectângulo.
Esse retoque suave na legislação teria uma “formulação genérica e abstracta” – tipo, “os números da aposta no Totoloto com a matriz 045-03401605, de 16 de Fevereiro, são automaticamente gratificados com o primeiro prémio integral da semana” –, e passaria despercebida aos olhos dos papalvos, que são vossas excelências, os portugueses, “quer pela simultaneidade da sua publicação com as demais alterações de artigos do mesmo Decreto-lei, quer pela sua, insusceptível de ser interpretada como relacionável com a clarificação da situação concreta”.
Esta noite sonhei com um país onde toda a actividade económica, obviamente regida pela classe política, era legislada de forma "totalmente imperceptível" pela cambada de atrasados mentais que habita o rectângulo.
Eles, inteligentes, espertos, lá em cima, a legislar com “formulação genérica e abstracta”. Para que nós cá em baixo, otários, pudéssemos continuar a viver exultantemente a abertura do Túnel do Rossio, as promoções do Lidl, os baldes de plástico oferecidos na compra de uma esfregona.
Eles a pouparem-nos a trabalheira de perceber as maroscas que se divertem a produzir. Nós a viver felizes na ignorância.
Que país maravilhoso, este com que sonhei.
Depois acordei, li o “Expresso” e tudo ficou “perceptível”. Afinal não tinha sonhado, a não ser na parte que diz respeito ao meu boletim do Totoloto.