Plágios & ruídos
Comecei a escrever um post sobre o ruído que produzem os pires e as chávenas quando empilhados à bruta por dedicados empregados de café.
Como sou sensível ao ruído, aquele barulho que sucede ao acto de abrir a máquina de lavar loiça é qualquer coisa de avassalador (se misturado com o motor de uma máquina de moer café, é o inferno na terra...): parece que entra pelos ouvidos e perfura directamente até ao cérebro, deixando-me sem pinga de sinapses e dando por perdido o prazer do café acabado de beber.
É claro que, notando a repetição sistemática, em pastelarias e cafés de Norte a Sul de Portugal, desta forma alarve de empilhar a loiça, tenho observado os protagonistas do inusitado concerto. Gostava de perceber se são surdos, insensíveis, obcecados, ou se fazem de propósito, espécie de catarse da vida difícil ao balcão. Confesso que, até hoje, não consegui chegar a uma conclusão: tanto observo convicção no acto, como lhe noto displicência ou simples gesto mecânico. Uma vez ou outra, pressa e stress.
Foi quando aqui cheguei – aqui, quero dizer, quando estava nesta fase do post -, que a frase “Gostava de perceber se são surdos, insensíveis, obcecados, ou se fazem de propósito” disparou campainhas cá dentro. Onde é que eu já li isto? Onde é que eu já li algo parecido com isto?
Fui investigar. E descobri.
Descobri que eu próprio escrevi, há já uns anos, uma crónica de jornal dedicada ao ruído – ruído de obras, de motores, ruído de rua em geral – onde às tantas falava do barulho dos pires e chávenas de café a baterem uns nos outros sob a batuta dos empregados. As palavras não eram aquelas, mas a ideia era a mesma.
Desanimei e não escrevi mais.
Porém, ficou uma dúvida: quando nos copiamos a nós próprios, isso é plágio? Ou será coerência?