Pechincha
O jornal mais barato do mundo é o “JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias”, sempre que traz um ensaio de João Lobo Antunes, como sucede com a edição que está agora nas bancas (Inês Pedrosa na capa).
Por apenas 2,80 euros, tenho direito a três páginas e meia da mais inteligente, profunda, acessível e interessante escrita que se pode encontrar e junta medicina e vida, cultura e quotidiano. No texto desta semana, dedicado à narrativa da doença – uma “Arte da Medicina”, segundo o autor, mas que trivialmente traduzo para “já agora, ouvir o doente”... – leio pérolas como esta:
“A imperturbalidade não é um dote a cultivar, mas sim um verniz com que nos pintamos nos primeiros anos do ofício, mas que o tempo, pacientemente, vai substituindo pela virtude da compaixão. Esta começa a despontar no dia em que, pela primeira vez, ouvimos o outro, sem impaciência nem preconceito, mas com a infinita ternura do homem pelo homem de que falava Camus, ou seja, como se estivéssemos a ouvir a voz com que falamos a nós próprios”.
Há melhor?
João Lobo Antunes enche-nos de conhecimento, calor e humanidade. O prazer de o ler é semelhante a uma aula de um genial orador, porque escreve quase como se estivesse a falar connosco. E a sensação de chegar ao fim de um texto de jornal e sentirmo-nos um pouco mais ricos no saber, e com ainda mais prazer em ler, é tão rara e essencial que 2,80 euros valem muito menos do que os escudos que antigamente os traduziam. Ou seja: não valem nada.
Resultado: ganhei dinheiro hoje, quando comprei o JL.