Escrever (não) é Triste
Todas as semanas, nesta Janela Indiscreta, escolho um blog. No fim de cada ano - e já lá vão alguns anos... -, escolho um blog do ano. Procuro talento, diversidade, novidade, qualidade, ousadia, criatividade. Não por esta ordem, nem cumulativamente. Às vezes basta uma destas qualidades em doses generosas.
A minha “eleição” é pessoal e vale o que vale – o trabalho dedicado, ao longo do ano, para fazer diariamente uma crónica de rádio sobre o que dizem os blogues e as redes sociais do que se passa no mundo, é a base deste olhar que necessariamente faz escolhas.
Hoje, ultimo dia do ano, lá vai para o ar – e para o podcast – a crónica que explica a escolha do ano. É esta, escrita para ser lida e ouvida, não para ser postada. Espero que me desculpem a oralidade desta escrita, se é que assim a posso classificar...
E votos de um 2013 em bom. O que isso possa querer dizer, ou ser...
“Tem sido assim na última Janela que se abre em cada ano: feitos os balanços de perdas e ganhos, de misérias e glórias, vale a pena escolher um blog, um lugar onde fomos felizes, ou podemos ser felizes no ano que se segue. A minha escolha para 2012 é um blog colectivo, de muita gente, nomes de peso ao lado de outros menos conhecidos, mas não menos talentosos, onde o mundo se observa sem a pressão da actualidade, numa fina mistura entre o pensamento rápido e a reflexão, a ficção, a crónica pessoal, o ensaio. A variedade dos autores – no estilo, na formação, na origem, até na profissão – resulta na variedade do próprio blog, que bem podia ser mensalmente impresso como uma revista, que bem merecia. Nasceu no final de 2011, “do signo Sagitário com Carneiro no ascendente”, como então escreveu uma das suas mais dinâmicas bloggers, Rita Roquette de Vasconcellos. Chama-se Escrever é Triste, mas o nome engana. Explica-se: “O nome, tiraram-mo de Drummond. Acompanho com um improvável bando de Tristes. Conheço-os bem e a eles me confio. Se me disserem, «feche os olhos», fecharei os olhos. Se me disserem, «despe-te», dispo-me”. Escrever, para este bando, não é mesmo nada triste. Eis parte do seu estatuto editorial:
“Somos um blog colectivo pessoalíssimo.
Misturam-se, no “Escrever é Triste”, duas correntes de fundo: o prazer desinteressado da escrita e o risco de exibir formas íntimas de ver o mundo.
Escrever-se-á de tudo, desde que sejam gostos: de livros ou de filmes, de pintura ou de música, de ideias ou de comportamentos, do quotidiano ou de utopias.
Para se escrever de tudo, tudo serve: uma lembrança de infância, um acontecimento em curso, um farrapo de conversa que se ouviu, uma efeméride, a actualidade, a pasmosa variedade do que se publica na “rede”. A única exigência é que esse tudo seja convertido numa voz, a voz de quem escreve.
Haverá três modelos de posts, graficamente distintos:
- Os posts livres, em que os autores abordam temas, ideias, episódios, gostos e sobre eles discorrem, em geral escrevendo, nalguns casos desenhando ou fotografando;
- Os posts de ficção;
- Os posts curtos, numa linha de escrita automática, rápidos, confessionais ou não, declarativos e, porventura, intempestivos”.
Assim é, efectivamente, no Escrever é triste, pela mão de nomes como os de Manuel S. Fonseca, Pedro Bidarra, António Eça de Queiroz, Pedro Marta Santos, Diogo Leote, Ruy Vasconcelos, Bernardo Vaz Pinto, Henrique Monteiro, Pedro Norton, Eugénia Vasconcelos, Teresa Conceição. Deixo-vos apenas alguns dos 18 autores do blog, que podem encontrar em escreveretriste.com, e que junta realmente sensibilidade, talento, imaginação, criatividade, mas também provocação e ousadia. É o paradigma do melhor que um blog pode ter – fugindo à actualidade sem escapar ao que é actual.
Fica de novo o nome do meu blog do ano: Escrever é Triste. Basta ler para perceber que escrever não é nada triste – mas até nesse pormenor da escolha há uma centelha de luz. A mesma luz que desejo a todos para 2013".