Fazer pão
Ontem, graças a este blog, aprendi a fazer pão.
O pão, juntamente com o azeite e o sal, são para mim as chaves que abrem as portas ao prazer de comer e dão sentido a uma mesa. E por essa via, a um bom bocado de vida. Quando abri o forno e vi o pão dourado, bonito, e depois o provei, saboroso e cheio, tive a certeza de algo que já desconfiava: além do filho, do livro e da árvore, um homem tem de fazer pão nem que seja uma vez na vida.
Eu até espero fazer mais vezes na vida que se segue.
E na lamechice da emoção de ver o pão a escaldar-me nas mãos, consegui gostar deste poema singelo, ingénuo, mas também por isso puro.
Se um pão é farinha, água, sal, e amor, pode bem um poema ser assim:
“É uma coisa muito antiga
o ofício do pão
primeiro misture o fermento
com água morna e açúcar
e deixa crescer ao sol
depois numa vasilha
derrame a farinha e o sal
óleo de girassol manjericão
adicionado o fermento
vá dando o ponto com calma
água morna e farinha
mas o pão tem seus mistérios
na sua feitura há que entrar
um pouco da alma do que é etéreo
então estique a massa
enrole numa trança
e deixe que descanse
que o tempo faça a sua dança
asse em forno forte
até que o perfume do pão
se espalhe pela casa e pela vida”
(O poema é da escritora brasileira Roseana Murray)