O livro
Estou a ler “Agora e na Hora da Nossa Morte” (edição Tinta da China, segunda edição à venda dentro de dias). Eu já admirava as reportagens da Susana Moreira Marques no Público, e estranhava que não fosse mais frequente e visível o seu trabalho. Pensei o costume: já não há lugar para o jornalismo de profundidade e autor.
Mas agora chegou este livro – uma reportagem ao estilo do melhor jornalismo que se pode reinventar a partir do New Journalism de outras décadas – e estou rendido ao talento da jornalista, à imaginação e criatividade com que desenhou a maneira de nos contar histórias de morte e de vida, e à fórmula com que nos agarra desde o primeiro parágrafo.
Começa assim:
“Há coisas sobre as quais não se pode escrever como sempre se escreveu. Algo muda. Primeiro os olhos, depois o coração — ou os nervos ou aquilo a que os antigos chamavam alma — e finalmente, as mãos”.
Daqui para a frente, vale tudo. Vale acima de tudo o encontro entre o talento da escrita, a sabedoria do olhar, e a sensibilidade do que se vê e quer contar. Alguém já disse que Susana Moreira Marques inventou uma nova escrita. Não concordo, pelas melhores razões: Susana recuperou o jornalismo que anda perdido há anos demais e tornou-o seu. Com inteira propriedade.
Deu sentido à frase que fecha o seu livro - “Mais do que pensar que a cada morte o mundo acaba, pensar que a cada nascimento recomeça o mundo” – e deixou-nos uma certeza: o melhor jornalismo não acaba enquanto houver uma Susana Moreira Marques à solta. Que bom.
(A Susana é visita do Hotel Babilónia no próximo sábado. A quem interesse...)